segunda-feira, julho 18, 2016

Opinião pessoal: PCP o parceiro traído de um casamento forçado...a três?!

Sem ofensa, e pedindo desculpa pela imagem utilizada mas que me parece a adequada para que se perceba o que está em causa, o PCP desempenha no contexto político nacional uma espécie de papel do corno, que é corno, que os seus amigos lhe garantem que é um corno do tamanho do mundo, mas que ele, porque confia demasiado em quem não deve, porque é ingénuo, porque acha que é vítima de uma cabala que reúne todas as "forças do mal", incluindo os seus amigos, recusa-se a acreditar. Até que um dia entra em casa sem avisar a que horas regressaria...
Ou seja, neste quadro da geringonça parlamentar nacional, o PCP, que supostamente até poderia ser o aliado mais confiável do PS (tenho do PCP a ideia, até hoje, de que cumpre os compromissos assumidos e já foi aliado essencial do PS na CM de Lisboa nos tempos de Costa!), parece estar a ser colocado estranhamente à margem do casamento de conveniência e sem prazo de validade, porque construído por mero oportunismo forçado e não por convicção.
Dois acontecimentos recentes, que questionaram o papel do PCP na geringonça nacional, vieram despoletar um debate em torno da consistência e do futuro deste entendimento parlamentar.

Recordemos o que se passou nos últimos dias:
1º acto
O PCP, em comunicado, afirmou que o acordo parlamentar para a indicação de cinco dos 13 juízes do Tribunal Constitucional (TC) foi feito por PS, PSD e BE e que os comunistas ficaram de fora "por critérios discriminatórios". "A lista para o TC resulta da negociação entre PS e PSD relativa à eleição de cinco dos 13 juízes que constituem esse Tribunal, com base nas indicações feitas por PS, PSD e BE. O PCP não foi consultado quanto aos nomes a integrar essa lista. Tal facto constitui uma exclusão movida por critérios discriminatórios. A lista apresentada é, assim, da exclusiva responsabilidade de PS, PSD e BE não merecendo o acordo do PCP", lê-se no texto. O PCP realça que "tais opções, bem como o conteúdo político que lhe está subjacente responsabilizam inteiramente os seus promotores e constituem em si um elemento de esclarecimento político que confirma a caracterização que o PCP faz da nova fase da vida política nacional e da relação de forças existente na Assembleia da República, quanto à inexistência de um Governo ou maioria de esquerda ou de um acordo de incidência parlamentar que condicione o PCP como força de suporte ao Governo" (notícia de 15 de Julho de 2016)
2º acto
O secretário-geral do PCP garante que o PCP pretende "fazer a cama" ao Governo do PS, mas só votará favoravelmente o Orçamento do Estado para 2017 se não reverter direitos dos trabalhadores. "Levaremos a nossa palavra até ao fim, como partido sério, votando, no que é bom para os trabalhadores e para o povo, a favor e votando contra aquilo que for negativo para os trabalhadores e para o nosso povo", afirmou Jerónimo de Sousa, lembrando que o "compromisso primeiro e principal" do partido são com "os trabalhadores" e não com o Governo. O partido "só se comprometeu a examinar" a proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2017 e a "dar uma contribuição construtiva e positiva" não garantindo "votar a favor de uma coisa que nem sequer conhece". Só "perante a proposta concreta de OE", o PCP decidirá o seu sentido de voto, acrescentou Jerónimo de Sousa, sublinhando que "se for bom para os trabalhadores portugueses e para o povo" o PCP votará a favor. Se não, "se quiser reverter esta política de recuperação de rendimentos e direitos", falará mais alto "o compromisso com os trabalhadores e com o povo" levando a que o PCP "não subscreva políticas que façam voltar tudo para trás". Num discurso em que não poupou críticas ao Governo, Jerónimo de Sousa voltou a queixar-se da "discriminação" de que considera ter sido alvo por parte do PS no processo de escolha de juízes para o Tribunal Constitucional (TC). "Esta solução encontrada é um compromisso entre o PS, o PSD e o Bloco de Esquerda, discriminaram o PCP", lembrou, considerando tratar-se de "um sinal de que não estamos perante um Governo de esquerda" mas sim "perante um Governo do PS que faz os entendimentos que muito bem entende", afirmou aludindo à indicação de uma lista de cinco dos 13 juízes do Tribunal Constitucional, contemplando dois nomes indicados pelo PSD e três pelo PS, sendo que um deles é considerado próximo do Bloco de Esquerda (notícia de 17 de Julho de 2016)
Conclusão
Se o PCP, como o próprio Jerónimo garante, não quer "fazer a cama" ao governo socialista - um governo que ele diz ser do PS e não de esquerda, primeira contradição porque isso mostra que afinal o PCP apoia um governo que não é de esquerda! - então qual a necessidade de trazer para a prazo pública, e com tom ameaçador, divergências surgidas no quadro da Assembleia da República (segunda contradição, não quer "fazer a cama" mas ameaça publicamente o PS?!)?
E como se isso não bastasse, e na mesma linha do comentário anterior, sabendo o PCP que se não votar a favor do OE 2017, ou se não for concertada previamente a posição de voto dos parceiros da geringonça, o OE 2017 será recusado porque PSD e CDS certamente votarão contra, então qual foi a necessidade do tom ameaçador, e público, de Jerónimo, quando supostamente tudo isso deverta ser resolvido internamente no quadro negocial? Será que o PCP se sente incomodado e colocado à margem do tal casamento de fachada e de conveniência, pelo que tem que fazer estas encenações? Ou o PCP tem dados concretos que mostram que eleitoralmente a sua colagem ao PS, numa posição de submissão desvalorizada, apesar da suas juras de que não será por ele que a geringonça cairá - algo que não tenho a certeza seja subscrito pelo Bloco - pode prejudicar o partido já nas eleições autárquicas de 2017 nas quais claramente aposta? Ou seja todos percebemos o incómodo do PCP, todos entendemos a aflição de Jerónimo, mas todos admitimos que o PCP não quer correr o risco de derrubar o governo das geringonça sem pelo menos ter razões políticas e orçamentais muito fortes  e inaceitáveis aos olhos do entendimento assinado com o PS em 2015. Assim sendo, qual a razão deste teatro todo? (LFM)

1 comentário:

Jorge Figueira disse...

Nisto dos casamentos havia um grande pensamento, aceite por todos, há 40 anos. Dizia-se então: entre marido e mulher não metas a colher. Eram tempos terríveis em que "ELAS" apanhavam de bico calado. Hoje isso é denunciado e todos nós achamos que devemos meter a colher.
Nestes casamentos políticos há similitude. O "celebrante" não queria o casamento e tudo fez para destruí-lo. Entregue a liturgia ao sucessor consumou-se o casório, para satisfação da grande parte da família.
Vai dar divórcio? Vai, com certeza. Não é preciso empurrar!