Um estudo do banco JP Morgan sobre o crédito
incobrável, revela que do total da carteira de crédito malparado da Europa, 57%
estão nos países Itália, Portugal, Espanha e Irlanda. O JP Morgan estipula que
a cobertura por provisões para crédito malparado deve ser 60% e assim há
deficit de provisões nos bancos europeus. Para o BCP esse deficit é de 1,294
mil milhões de euros. BCP desvaloriza este número. Itália, Espanha, Portugal e
Irlanda, respondem por 57% do total da carteira de crédito em incumprimento
(Non-Performing Loans) da Europa que soma cerca de 700 mil milhões de euros, segundo
um research do JP Morgan sobre banca europeia intitulado "Lições do Japão:
Bancos da UE entre a espada e a parede".
Destes 700 mil milhões, 200 mil milhões estão em Itália (apenas
empréstimos incobráveis), e cerca de 130 mil milhões em Espanha; cerca de 40
mil milhões de euros de crédito malparado em Portugal e finalmente perto de 25
mil milhões de euros está nos bancos da Irlanda. Além disso, diz o JP Morgan, "a cobertura de NPL
(crédito malparado) em Itália, Portugal e Espanha ainda é baixa, em nossa
opinião, dadas as proporções mais elevadas de créditos incobráveis". A
cobertura de NPL é apenas de 45% em Espanha e Itália e 36% para Portugal, em
linha ou abaixo de seus pares europeus, ao passo que os rácios de morosidade
são mais do dobro dos níveis da UE.
O banco de investimento norte-americano lembra a forma
como os Estados Unidos e Japão lidaram com o elevado peso de crédito malparado
nos balanços dos bancos. Nos Estados Unidos lembrou o programa TARP - Troubled
Assets Relief Program, com recapitalizações forçadas para restaurar a
confiança. "Aumentos de capital com entrada de dinheiro fresco para limpar
a carteira de crédito em incumprimento é algo que fortalece os balanços e
restaura a confiança dos investidores", diz o estudo. No caso do Japão o
país obrigou os bancos a reconhecer plenamente (na totalidade) os créditos
incobráveis, em 1999-2001, e a partir de Outubro 2002, os bancos tinham de
reduzir para 50% as novas entradas em crédito malparado no prazo de um ano e 80%
dentro de dois anos, com uma meta de reduzir para metade a proporção de NPLs
dos principais bancos até Março de 2005. O JP Morgan reconhece no entanto que
estas soluções estão limitadas na Europa por causa das regras de bail-in
(resgate com recurso aos credores do banco) e das regras europeias sobre os
auxílios estatais. O estudo do JP Morgan estima que faltam 25 mil milhões de
euros em provisões para cobrir correctamente o risco do crédito dos bancos
europeus entrar em incumprimento. O que segundo o JP Morgan significa que
faltam 25 mil milhões para se ter aproximar do rácio de cobertura que o banco
considera ideal, isto é 60%.
Fontes da banca portuguesa contestam esta análise por
a considerarem simplista, pois dentro do crédito em incumprimento há o crédito
hipotecário que tem o imóvel como garantia.
O banco norte-americano diz que 21 mil milhões de
euros são as provisões que faltam nos bancos em Itália, de acordo com esta
análise. E acreditam que o veículo Atlante (fundo que compra carteiras de NPL a
33% do seu valor facial) é um exemplo de uma potencial solução para limpar os
balanços dos bancos. Nos bancos espanhóis as provisões em falta (para a
cobertura de 60% dos NPLs) é de 2 mil
milhões de euros; para Espanha – essencialmente Caixabank e Popular – e 600
milhões de euros para o Bank of Ireland, e finalmente para o banco português
BCP, o déficit de provisões para malparado (face a um rácio de cobertura ideal
definido pelo JP Morgan, que é de 60%) é de cerca de 1,3 mil milhões de euros.
Isto é, como o BCP tem um rácio de cobertura de NPL estimado para 2018 de
47,8%, o JP Morgan diz que faltam 1,294 mil milhões em cobertura de provisões
para chegar aos 60%. Este dado já tinha sido avançado pelo Negócios que, tal
como o Económico, teve acesso ao estudo. O BCP desvaloriza este número. Estes
dados não têm em conta a evolução da carteira de crédito e a evolução da sua
qualidade. O presidente do BCP já disse que tenciona reduzir a carteira de
crédito em incumprimento em cerca de 2 mil milhões de euros. Nuno Amado
destacou numa das últimas apresentações de resultados que, "neste momento,
a única decisão que há é uma intensificação do plano do BCP, com uma diminuição
mais intensa do NPLs - malparado - e dos NPEs - crédito em risco - até Dezembro
de 2017 e uma estabilização da qualidade do capital". O BCP prepara-se para apresentar uma redução
dos NPEs da ordem dos 2.000 milhões de euros a 2.500 milhões até Dezembro de
2017, que "é muito significativo, e que nos colocarão próximo da média do
sector", disse o CEO do BCP. E esta estratégia está a dar frutos, pois o
banco no espaço de apenas seis meses cortou os NPEs (crédito em risco) para
10.900 milhões de euros em Dezembro de 2015 face aos 11.600 milhões de Junho de
2015.
Eficiência dos bancos, custos sobre receitas
Em termos de eficiência, diz o JP Morgan que os bancos
europeus têm um rácio de cost-to-income de 58% próximo do dos bancos japoneses
(60%). "Nós acreditamos que as administrações dos bancos europeus precisam
de ser mais pro-activas no corte orgânico de custos. Apesar da redução de 20%
no número de instituições de crédito e da redução de 12% no número de
empregados da banca, os bancos europeus aumentaram os custos operacionais em 7%
nos sete anos após a crise de 2008 enquanto os bancos japoneses viram esses
custos operacionais caírem 12% entre 2000 e 2005. Em parte este corte de custos
foi impulsionado por uma onda de consolidação entre os maiores bancos japoneses
- que resultou na criação de "mega grupos bancários." A banca
japonesa é ainda assim mais fragmentada do que a da União Europeia, diz o
estudo. Nos estados membros da UE, os 5 maiores bancos concentram 64% do
crédito concedido. Em comparação, o 10 maiores bancos japoneses são responsáveis
por 41% dos créditos. "Também vemos necessidade de mais M&A (fusões
e aquisições) na Europa, em especial nos bancos mais pequenos. Nós não
esperamos fusões entre mega bancos no actual quadro regulatório", diz.
Rácio de CET1
"Estimamos que o rácio médio de CET1 - common
equity tier 1 caia de 14% em 2018 (estimativa) para 12,9% com o aumento dos
activos ponderados pelo risco (RWA)", diz. Os activs ponderados pelo risco
aumentam à medida que se degrada a carteira de crédito. O JP Morgan estima que
os bancos da UE tenham, no fim de 2018, 15 mil milhões de défice em capital
regulatório (CET1) após a introdução das novas regras de Basileia. "O
déficit estará concentrado em poucos bancos, e que são "large cap"
(maiores em valor em bolsa), e esperamos que esse deficit de capital CET1 seja
totalmente mitigado pelo cortes de dividendos e pela redução de RWA". "Também
vemos que é necessário 25 mil milhões de euros em provisões antes de impostos
para limpar os bancos da exposição ao crédito em risco (NPE - Non Performing
Exposure), através de uma cobertura dessa carteira de crédito na ordem dos 60%,
o que aumenta o défice de capital total para os bancos da UE de 15 mil milhões
para 25 mil milhões de euros no fim de 2018 (Económico, pela jornalista MariaTeixeira Alves)
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