segunda-feira, setembro 12, 2016

Venezuela: A morte lenta de um país

Há quem espere horas intermináveis em jejum por comida que nunca chega ou morra nos hospitais por falta de tratamento. O retrato da Venezuela pós-Chávez, um país mergulhado na mais grave crise da sua história e onde a comunidade portuguesa vive dias de grande ansiedade. Ainda não tinha chegado a hora. Maurício acredita que não, e que, desta vez, as coisas dos homens meteram-se nos desígnios de Deus. Ainda não tinha chegado a hora, mas ele morreu. Morreu há três dias, e ainda é difícil de acreditar para os que lhe são próximos. Primeiro uma dor na barriga, que foi ficando cada vez mais lancinante e insuportável. Depois a ida ao hospital. O diagnóstico não foi demorado. Mas não existiam médicos suficientes, nem anestesia ou materiais cirúrgicos com que operar. Agonizou até à morte na maca num corredor do hospital Domingo Luciani, em Caracas. Tinha 38 anos e era pai de três filhos pequenos.
O amigo de Maurício morreu de uma simples apendicite. “Aqui na Venezuela já aconteceu os médicos fazerem uma operação à luz de um telemóvel. Que país é este?”, questiona Maurício Blanco. Maurício, 60 anos, recorda agora o amigo enquanto espera na fila para o pão. Há vários meses que as esperas para a padaria, e principalmente para o supermercado, se tornaram uma rotina diária. Com a escassez de farinha de milho pré-cozida com que costumam fazer as tradicionais arepas, os venezuelanos tiveram de se virar cada vez mais para o pão de trigo como alternativa. Maurício ainda aguarda pela sua vez quando Dante Calice está já a sair da loja com dois pães pelo braço. “Estes pães equivalem quase a uma semana de trabalho. Compro isto e esta semana já não devo comprar mais nada, porque o dinheiro não chega.” Como faz então? “Em casa tenho tudo racionado. Por exemplo, em vez de comer metade de um pão, como um quarto. E guardo outro para a manhã ou para a tarde do dia seguinte.” Mas o racionamento não atinge apenas a comida. “Sofro de hipertensão e o medicamento é muito difícil de conseguir. Até isso tenho contado. Devia estar a tomar um comprimido todos os dias, por recomendação médica. Mas agora só consigo tomar dia sim, dia não, caso contrário não vai chegar.”
Dentro da padaria, Cristiano vai controlando a poucos metros a fila de pessoas que vão entrando e passam pelo balcão para levantar o pão. Devia vender apenas dois pães por cada cliente, mas nem sempre o dono faz caso dessa regra. “Se vejo que se trata de uma família que tem quatro ou cinco filhos, vendo mais pão. Temos de ter também essa consciência.” Cristiano Santos Neto é há décadas o dono da Rosita, uma das padarias mais afamadas da capital venezuelana. “Tem havido muitas crises neste país, mas nenhuma como esta. Em 61 anos que levo aqui nunca tinha visto nada assim.”
Onde quer que haja um supermercado, uma padaria, uma sapataria ou qualquer outro tipo de comércio na Venezuela, a probabilidade de o dono ser um português é bastante elevada. E é ainda maior em Catia La Mar, cidade situada a cerca de 40 quilómetros a norte de Caracas, no estado de Vargas, uma zona povoada de portugueses e lusodescendentes. Ainda o sol está longe de nascer quando as pessoas começam a fazer fila à porta do supermercado 93. Concentram as atenções numa porta branca que tem uma janela com um gradeamento, ao lado da qual foi afixado um pequeno papel verde que recorda o dia em que podem vir fazer fila, consoante o número em que termina o seu bilhete de identidade. Hoje é quinta-feira, e, de acordo com o afixado, vêm os “zeros” e os “uns”.
Ao fim de várias horas alguém surge finalmente à janela. É escusado esperar mais porque hoje não chegará qualquer camião com mercadorias. A pequena multidão começa a dispersar, em desânimo, mas Juana permanece aos gritos à porta do supermercado e não esconde a indignação. “Nós estamos a passar fome aqui. O povo tem fome, precisa de comer. Não há arroz, não há farinha, não há nada. A culpa é do Presidente Maduro, que tem a Venezuela a passar fome.” Minutos depois, a pouco mais de quinhentos metros do supermercado, num barracão meio escondido, um bachaquero — como são conhecidos os vendedores no mercado negro — já está a vender produtos a um preço quatro a cinco vezes superior ao do mercado.
Racionamento. À entrada para o supermercado 93, em Catia La Mar, um cartaz avisa para o dia em que se pode fazer fila, consoante a terminação da cédula de identidade
“Antigamente isto estava cheio de mercadoria. Agora está como vê”, diz o dono português do supermercado. E o que se vê são algumas prateleiras vazias e outras que, tendo produtos, têm muito pouca variedade para oferecer. Estima-se que a inflação deva atingir este ano um valor histórico de 700%, mas se tivermos em conta apenas os alimentos, o valor já é muito superior. Isso faz com que a grande maioria da população só consiga ter acesso à comida através dos produtos que são regulados pelo Governo, e cujo preço é consideravelmente mais baixo.
Mas como chegou o país a um desastre económico destas dimensões? Esta era, para muitos, uma tragédia já anunciada. “O modelo económico do socialismo está a meter água por todos os lados, e nós avisámos há anos que, mais cedo ou mais tarde, o barco iria ao fundo”, diz José Guerra, economista e atualmente deputado da oposição pela coligação Mesa de Unidade Democrática, que em dezembro do ano passado tomou pela primeira vez controlo da Assembleia Nacional depois de 17 anos de domínio ‘chavista’ ininterrupto. Guerra subscreveu em 2009 um documento, em conjunto com meia centena de destacados economistas venezuelanos, que alertava para os perigos do caminho que estava a ser seguido. “Tudo isto é resultado de um conjunto de políticas erradas do Estado que passaram por expropriações e nacionalizações, asfixia da economia através de políticas estatais de regulação dos preços e controlo cambial”, afirma a economista Sary Levy-Carciente, também subscritora. “Quando o petróleo estava alto não se estabeleceram mecanismos contracíclicos. Havia dinheiro para importar tudo o que se quisesse para o país, mas agora que o petróleo está em baixa não só não há dinheiro para importar, como não se produz o que se necessita dentro do país porque o aparelho produtivo interno foi totalmente desmantelado.”
Mas há outra explicação para o que está a acontecer à Venezuela, que é dada pelo Presidente Nicolás Maduro e repetida vezes sem conta pelos sectores leais ao denominado ‘chavismo’. Encontramo-la também em Catia La Mar, não muito longe do supermercado português onde, há pouco, dezenas de pessoas desmobilizaram em desespero depois de horas à espera para nada. No centro de distribuição da PDVAL — Produtora e Distribuidora Venezuelana de Alimentos — há também fila, mas pelo menos a certeza de se sair dali com um saco de plástico com alguns produtos do cabaz básico, como arroz, leite, manteiga ou azeite. Um homem de T-shirt amarela e boné com as cores da bandeira venezuelana vai comandando as operações de distribuição. Hector Montilla é coordenador do CLAP (Comité Local de Abastecimento e Produção), organizações criadas em abril deste ano pelo Estado para distribuir alimentos diretamente pela população. “Estamos a levar com uma guerra económica já há dois ou três anos, mas vamos manter-nos firmes. Os grandes empresários e os interesses capitalistas têm uma estratégia para acabar com a revolução. Pararam a produção para provocar o caos e derrubar o Governo, mas esta guerra não a vão ganhar”, garante Hector. “Chávez era um gigante da América Latina. Pensavam que com a morte de Chávez morria tudo? Não. Aqui temos os filhos de Chávez. Temos Maduro. E vamos acabar com eles.”
Para fazer face à difícil situação que o país enfrenta, Nicolás Maduro anunciou em julho mais um grande projeto de âmbito nacional, a Missão de Abastecimento Soberano, que tem como objetivo o controlo estatal de todo o circuito económico, desde a produção até à distribuição final. “O caminho não é o capitalismo e mais privatizações, e entregar este país às oligarquias. O caminho é mais socialismo, mais revolução e mais poder popular”, garante Maduro. “A política de controlo e planificação centralizada da produção vai acabar com o país”, adverte por sua vez a economista Sary Levy-Carciente.
O ESPECTRO DA MORTE RONDA OS VIVOS
O cheiro era insuportável. Maria Fernanda entrou e teve de tapar o nariz de imediato. Passava já das nove da noite, o único momento do dia em que conseguia entrar ali de forma despercebida. Na morgue, havia fetos que estavam em decomposição há mais de sete meses, em bolsas que não eram as apropriadas. Noutros pisos existiam camas cujos colchões estavam ainda manchados de sangue das parturientes, porque não havia sequer produtos para os limpar. Local? Maternidade Comandante Supremo Hugo Chávez, a sul de Caracas. Inaugurada em 2012, e reinaugurada em 2013 pelo atual Presidente Nicolás Maduro.
Não foi fácil entrar. Em muitos casos foi necessário enganar a segurança e fazê-lo com uma câmara oculta. Mas a jornalista María Fernanda Rodríguez conseguiu visitar vários dos hospitais da capital. O que encontrou, em muitos casos, aproximava-se quase de um cenário de guerra. “A maioria encontrava-se num estado grave de deterioração. Não existiam materiais médicos, não havia gazes ou seringas, muitas vezes as pessoas têm elas próprias de tentar comprar os materiais com que depois as tratam ou operam. Em alguns casos não havia luz ou água”, relata María Fernanda. O cenário macabro encontrado na maternidade Hugo Chávez repetiu-se noutros hospitais. “As morgues muitas vezes não têm o sistema de conservação a funcionar, e os corpos decompõem-se mais rapidamente. Tão pouco têm bolsas apropriadas para impedir o cheiro de se propagar. Em alguns casos as moscas que se originam na decomposição desses cadáveres são vistas depois a voar pelos quartos dos outros doentes que estão ali hospitalizados.” O resultado da reportagem foi publicado em vários vídeos no site de informação venezuelano “Caraota Digital”. Num anúncio que passa atualmente na televisão pública venezuelana, controlada pela máquina de informação do Estado, o site é acusado de estar “ao serviço dos interesses do imperialismo” e de ser um “laboratório de guerra”.
Não há números oficiais, porque o Governo não os divulga, mas estima-se que, em apenas dois anos, a taxa de mortalidade infantil no país tenha aumentado exponencialmente, tanto pela via dos deficientes cuidados médicos, como da desnutrição. Nos hospitais escasseiam antibióticos e outros medicamentos. Ou até coisas tão aparentemente banais como luvas ou sabão. Não há muitas vezes forma de fazer operações relativamente simples, como a que precisava o amigo de Maurício Blanco, que acabou por morrer de uma apendicite. “Só há uma palavra para o que estão a fazer aos hospitais: abandono”, denuncia María Fernanda.
Além da falta de condições, os médicos ainda têm de lidar com o problema grave da violência e insegurança, que grassa nas ruas e não para à porta dos hospitais. “Por vezes chega um elemento de um grupo criminoso que foi baleado num confronto. Os familiares e amigos irrompem pelo hospital armados e ameaçam os médicos. Dizem-lhes: se não lhe salvas a vida, mato-te.”
QUANDO UMA VIDA VALE UM TELEMÓVEL
Aconteceu ao final da tarde. José tinha chegado a casa e já tinha saído do carro em direção à entrada. Quando está prestes a abrir a porta sente uma arma contra o corpo. Vira-se e vê que um homem e uma mulher o ameaçam. Entraram-lhe pela casa dentro e nos minutos que se seguiram levaram tudo o que conseguiram, desde a televisão ao ar condicionado, ou até mesmo a comida que tinha na despensa. “No minuto seguinte a todo aquele pesadelo acabar pensei: tenho de me ir embora, já não dá para aguentar mais aqui.” Depois de 30 anos na Venezuela, José Portela Azevedo, um dos muitos madeirenses a viver na região de Catia La Mar, está a poucos dias de fazer as malas. “Este é um país sem lei, está demasiado perigoso. Se for preciso até os sacos do supermercado te roubam.” O presidente do Centro Português de Caracas, Gil Andrade, confirma que muitos outros têm ido pelo mesmo caminho, em especial lusodescendentes mais jovens, que estão a emigrar. Seja pela insegurança ou pela grave crise económica que o país atravessa.
Os portugueses estão há muito entre os mais afetados pela onda de violência e sequestros no país. “Talvez porque, por estarem muito ligados a negócios, estão também mais expostos e dão a sensação de que continuam melhor economicamente apesar de toda esta crise”, considera Gil Andrade. São os já famosos “sequestros expresso”, que duram quatro a cinco horas, ao fim das quais a pessoa é libertada mediante o pagamento do resgate. O presidente do Centro Português conhece essa situação de perto: “Ainda a semana passada uma senhora que ia buscar a minha filha a casa de um amigo foi sequestrada. Por cinco minutos a minha filha não foi levada também...” Na maior parte das vezes não se fazem denúncias, e os casos não chegam a constar das estatísticas oficiais. “Se vamos à polícia pedir ajuda muitas vezes pedem-nos dinheiro. Sai mais barato resolver o caso diretamente com os sequestradores do que com as autoridades". O aumento da violência tem sido de tal ordem que, no ano passado, Caracas foi considerada a cidade mais violenta do mundo, com a maior taxa de homicídios por cada 100 mil habitantes. E o medo reflete-se no dia a dia da cidade. Não há praticamente um carro no intrincado trânsito da capital que não tenha os vidros fumados. Depois das sete da tarde as pessoas já começam a recolher a casa. E evita falar-se ao telefone quando se anda na rua. “Aqui podem matar-te por um telemóvel, ou mesmo dar-te um tiro se foram para te roubar e não tiveres nada para dar”, desabafa María Fernanda Rodríguez. Melanio Escobar, também jornalista e ativista pelos direitos humanos, ajuda a pôr as coisas em perspetiva. “Um iPhone aqui custa um milhão de bolívares. O salário mínimo é de 15 mil bolívares por mês. Quantos anos de trabalho é que uma pessoa pobre precisa de ter para chegar ao valor de um iPhone? Com o dinheiro desse telemóvel podem sustentar a vida deles e a da família, e não se importam de matar alguém para o conseguir.”
A resposta do Governo à insegurança crescente passa por reforçar a ação das OLP (Operações de Libertação do Povo), lançadas no ano passado e que implicam a ação conjunta de elementos de várias forças de segurança e militares. A atuação destas forças tem sido, no entanto, alvo de várias acusações de violações dos direitos humanos, detenções e execuções arbitrárias. No início de agosto, na cerimónia que assinalou com pompa e circunstância o 79º aniversário da Guarda Nacional Bolivariana, em Caracas, Maduro anunciou o relançamento do programa das OLP, com um intensificar das operações até ao final deste ano. No final da cerimónia, os milhares de agentes dispostos ao longo do Paseo Los Procéres prestaram homenagem a Simón Bolívar, pai da nação, e Hugo Chávez, “comandante supremo e eterno” e pai da revolução bolivariana. “Temos de dar graças a Deus por nos ter permitido viver na mesma época do gigante Chávez. Sejamos leais ao seu legado”, discursa Maduro.
OS OLHOS OMNIPRESENTES DE “SANTO CHÁVEZ”
As lágrimas começam a correr-lhe pela cara abaixo mal o nome é pronunciado. “É demasiada emoção”, explica Mariela, que está na fila para receber um dos sacos com bens essenciais que estão a ser distribuídos pelo CLAP, comité de abastecimento. “Ele soube chegar ao coração do povo, será sempre o nosso Presidente eterno. Já não está cá mas deu-nos um Presidente que soube continuar o seu legado.” Mariela, como muitos venezuelanos, acredita que a situação que o país vive se deve à “guerra económica” e à ofensiva capitalista denunciada por Maduro. Mais de três anos depois da sua morte, não há ninguém que continue a estar mais presente no quotidiano e na mente dos venezuelanos do que Hugo Chávez. Tanto dos que sempre o idolatraram como daqueles que o criticaram desde o primeiro dia. “Os olhos dele estão por todo o lado. Olhas para cima, lá está Chávez. Olhas para a esquerda, lá está ele outra vez. Olhas para a direita, é igual. É omnipresente”, afirma o economista e deputado da oposição, José Guerra, referindo-se às pinturas dos olhos do antigo Presidente venezuelano que pontificam no topo de muitos dos prédios mais altos da capital ou simplesmente nos muros ao virar de uma esquina. Chávez, o “comandante supremo e eterno”, como o regime bolivariano o classifica, está em todo o lado. “É um culto da personalidade típico de regimes totalitários”, remata Guerra. “É uma coisa quase religiosa”, afirma por sua vez Carlos Correa, diretor da organização não-governamental Espacio Público. De resto, lembra Correa, o próprio Presidente Maduro já presidiu a várias reuniões politicas junto ao túmulo de Chávez, que está situado no Quartel da Montanha. O quartel também é conhecido como 4F, numa referência ao 4 de fevereiro de 1992, data em que Chávez comandou, a partir daquele local, um golpe de Estado falhado contra o Governo de Carlos Andrés Pérez. Rayza Sanchez lembra-se bem desse dia, e da agitação dos soldados de um lado para o outro. Com 58 anos, ali nasceu e ali nasceram também as suas duas filhas e os dois netos. Vive numa pequena casa na rua que sobe para o quartel, cujas paredes estão decoradas com pinturas alusivas ao líder da revolução bolivariana. Agora é vizinha da sua última morada. “Sou chavista, claro que sim. Ele faz muita falta ao povo, deu-nos muitas coisas boas. Mas continuamos a viver a revolução e algum dia veremos a luz. Temos de aguentar estas pressões.”
E, a reforçar a dimensão transcendente que muitos querem atribuir ao falecido Presidente, não muito longe do quartel há um pequeno santuário a “Santo Hugo Chávez”, onde a fotografia do comandante convive lado a lado com imagens de santas e santos, postais emocionados e agradecimentos eternos. “Chávez vive, a pátria continua.” Apontado como um líder fraco e pouco carismático, Nicolás Maduro procura desde há três anos capitalizar ao máximo a imagem de sucessor escolhido pelo próprio “pai da revolução bolivariana” e fiel depositário do seu legado. Mas muitos acreditam que nem a aura de Chávez poderá salvar agora o atual Presidente. O processo para a convocação de um referendo que decida a continuidade de Maduro no cargo está em curso, mas a oposição acusa o regime de adiar ao máximo a consulta, instrumentalizando a Comissão Nacional Eleitoral. A CNE agendou para o final de outubro a recolha das assinaturas necessárias para levar o referendo adiante (20% do total do universo eleitoral), mas os prazos para que se realize este ano são já apertados. As sondagens mostram que Maduro perderá, mas se a consulta se realizar depois de 8 de janeiro a Constituição determina que não se realizem novas eleições e o vice-presidente, Aristóbulo Istúriz, termine o mandato até 2019. Por outras palavras, o ‘chavismo’ continuaria bem vivo no poder. O Expresso pediu entrevistas ao Governo venezuelano, através do Ministério do Poder Popular para a informação e Comunicação, e ainda a deputados do Gran Polo Patriótico, a coligação de partidos de esquerda que apoia Nicolás Maduro. Tanto durante o tempo de reportagem em Caracas como até ao fecho desta edição ninguém se mostrou disponível.
O chamado “referendo revogatório” é encarado por muitos como uma espécie de válvula de escape, num país que é como uma panela de pressão prestes a rebentar a qualquer momento. “É a única solução democrática para canalizar o protesto e descontentamento da sociedade, e sair desta crise de forma pacífica. Se não acontecer, o país pode entrar numa época de ingovernabilidade total e explosão social nas ruas”, vaticina o deputado José Guerra. As mesmas ruas que agora estão cheias de pessoas que fazem fila desde madrugada à procura de algo que chegue para comer, mas que pode nunca chegar. Como Alicia Correa, uma avô desesperada por comida para os netos. Nesse dia voltaria para casa apenas com uma barra de sabão. E fome (texto do jornalista do Expresso, João Santos Duarte,  publicado na edição de 3 de setembro de 2016, com a devida vénia)

1 comentário:

Jorge Figueira disse...

Foi naquilo que deu ADECOS e COPEANOS, durante anos, repartirem o poder entre eles brincando ao formalismo eleitoral. Entretanto, a corrupção grassou o tempo todo às costas do Povo sob o olhar cúmplice de adecos e copeanos.
O petróleo deu para tudo...mas um dia acabou! Veio a demagogia. O “amigo dos pobrezinhos", interessado no Poder e nada no Povo, a cavalinho dos votos gerados pelos erros da democracia putativa que detivera o Poder anos a fio, pegou fogo a tudo. Demagogos destes querem é mandar! O Povo, naquelas cabecinhas, só existe para justificar a “mandância”.
Os demagogos são assim se tiverem exército (o exemplo mais comum é o Hitler) apeá-los só a tiro. Porém, neste caso, acho que antes de pegarem em armas as populações morrerão de inanição