quarta-feira, setembro 14, 2016

Venezuela: Maduro aproveita reunião para melhorar imagem


Com o país com a economia paralisada e a viver a maior contestação de sempre à sua presidência, Nicolás Maduro vai aproveitar ser o anfitrião da Cimeira dos Países Não Alinhados, que se realiza esta semana na ilha Margarita, para mostrar ao mundo as benesses da revolução chavista e passar uma imagem de prosperidade da Venezuela. Mas o sucesso do encontro está à partida manchado pela ausência de nomes sonantes, pois apenas os presidentes de Equador e Bolívia confirmaram a sua presença. Para que a cimeira corra sem problemas de segurança, o governo de Maduro proibiu "a operação e circulação aérea" desde e para o Estado de Nova Esparta (onde fica a ilha de Margarita), medida que estará em vigor até domingo, último dia da reunião. Foi também proibida a saída, atracagem e navegação de embarcações desportivas e de recreio, as operações em heliportos, aeroportos e aeródromos controlados e não controlados. Na ilha estão também mais de 14 mil efetivos da Força Armada Nacional Bolivariana, da polícia e dos serviços de segurança.
"Qualquer provocação por parte dos compatriotas que usam este tipo de eventos para manifestar o seu ódio" será passageira e não tirará a notoriedade a este evento que tem "importância estratégica", pois é o "segundo fórum de países mais importante do mundo", declarou ontem Diosdado Cabello, antigo presidente da Assembleia Nacional e considerado o número dois do chavismo. A importância estratégica referida por Cabello será para o Conselho Venezuelano de Relações Internacionais, instituição independente formada por duas dezenas de peritos, aproveitada por Nicolás Maduro para publicitar os aspetos positivos da revolução chavista.
"É uma oportunidade para o chavismo mostrar a sua diplomacia espetáculo", declarou ontem o embaixador Óscar Hernández, um dos membros deste conselho. Também o presidente da Comissão de Política Externa da Câmara dos Deputados, Luis Florido, afirmou ontem a cimeira é um "plano perverso" para lavar a cara do governo de Nicolás Maduro. Com a participação esperada de cerca de três mil pessoas, segundo dados avançados ontem por Diosdado Cabello, estarão apenas presentes os presidentes do Equador, Rafael Correa, e da Bolívia, Evo Morales. Um número bem distante do dos 60 dignitários que chegou a ser avançado (mais de 100 países pertencem aos Não Alinhados, mas o grupo já não tem a importância da Guerra Fria).
O custo da realização da cimeira, estimado em cerca de 133 milhões de euros, já suscitou também o protesto de dez organizações não-governamentais venezuelanas, numa carta aberta à comunidade internacional, na qual frisam que vigora no país um Estado de Emergência Económica, com escassez de alimentos e medicamentos e inflação elevada, e acusam o governo de maquilhar a realidade para ficar no poder.
"Como país anfitrião devemos ser transparentes com a comunidade internacional, e não dissimular uma realidade com uma política de maquilhagem em avenidas e ruas para disfarçar junto dos visitantes a verdadeira, triste e lamentável situação de que padece a maior parte do país", refere a carta aberta assinada pelas ONG. A aliança da oposição venezuelana Mesa de Unidade Democrática denunciou ontem que seis conhecidos políticos de Margarita foram chamados aos serviços secretos horas antes de começar a cimeira. A MUD queixa-se de que os serviços secretos "não têm competência para abrir investigações, apenas o Ministério Público pode fazê-lo", e atribui as notificações a tentativas de atemorizar os opositores, admitindo a possibilidade de os visados serem detidos (DN-Lisboa)

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