terça-feira, setembro 12, 2017

Jornal venezuelano suspende impressão e acusa Governo de não vender papel

Os donos de estações de televisão e de jornais privados da Venezuela acusam o Governo do Presidente Nicolás Maduro de estar a apertar o cerco ao trabalho dos jornalistas e de ter instaurado a censura de forma indirecta – o mais recente caso é o do diário Ultima Hora, que anunciou a suspensão da sua edição impressa por falta de papel. A última edição do maior diário do estado venezuelano de Portuguesa saiu a 30 de Agosto, e a informação foi dada na primeira página, sob um fundo negro e com o título "Pausa forçada!" "Esgotadas as negociações com o Governo nacional através da [empresa] estatal Corporación Maneiro, única e exclusiva fornecedora de papel para a impressão de jornais – um material vital que não nos é vendido há dois meses –, e depois de termos gasto o inventário existente (...), Ultima Hora, o Primeiro Diário de Portuguesa vê-se obrigado a suspender a sua circulação em versão impressa até que possamos dispor novamente do referido material", lê-se na comunicação, que termina com uma citação atribuída ao padre espanhol Josemaría Escrivá, fundador da Opus Dei: "Que importa que agora tenhas de cortar a tua actividade se, mais cedo ou mais tarde, qual mola comprimida, chegarás muito mais longe do que alguma vez sonhaste?"

Fundado há 42 anos, o Ultima Hora é o jornal mais influente do estado de Portuguesa, com os seus cerca de um milhão de habitantes. A sua linha editorial é claramente contrária ao Governo de Nicolás Maduro, como se percebe pelas notícias que dominam o site – agora o único meio de ligação aos seus leitores.
Em reacção à paragem da edição impressa do Ultima Hora, o Colégio Nacional de Jornalistas da Venezuela manifestou a sua solidariedade e acusou o Governo de enfraquecer "direitos fundamentais expressos na Constituição vigente" – uma Constituição adoptada em Dezembro de 1999, menos de um ano depois da eleição de Hugo Chávez, e que está agora a ser revista pela Assembleia Constituinte convocada pelo actual Presidente, Nicolás Maduro.
A meio da tarde desta quinta-feira, a primeira página do site do jornal Ultima Hora era dominada precisamente pelos trabalhos da Constituinte, através de uma entrevista ao deputado Franco Casella, da Mesa da Unidade Democrática. Como deputado da oposição na Assembleia Nacional, Casella considera que a Assembleia Constituinte é "uma farsa", e que o seu único objectivo é "provocar medo e inquietação" entre os opositores.
Os 545 representantes da Assembleia Constituinte foram eleitos no dia 30 de Julho, numas eleições boicotadas pela oposição, e a sua tarefa oficial é rever alguns artigos da Constituição para – segundo Nicolás Maduro – aperfeiçoar a revolução bolivariana iniciada por Hugo Chávez. Os opositores dizem que essas alterações têm como objectivo facilitar a repressão e calar os protestos nas ruas.

Esta semana, a Constituinte aprovou a sua primeira medida de fundo: um decreto que encarrega o Ministério Público e o Supremo Tribunal a dar início a um "julgamento histórico" contra os líderes "da direita", por traição à pátria, sob a acusação de terem encorajado os Estados Unidos a aplicar sanções económicas ao Governo da Venezuela (texto do jornalista do Púbicio, Alexandre Martins)

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