segunda-feira, outubro 02, 2017

E agora? Nada de desesperos. Houve erros? Sim. Resta agir imediatamente. Estou 100% com Miguel Albuquerque

Não há volta a dar nem podemos estar com paninhos quentes.
Os resultados das eleições autárquicas para o PSD Madeira constituíram mais um aviso, o terceiro consecutivo, de que é preciso fazer alguma coisa. Ou que, em aditamento a essa constatação, transmitiram a ideia de que há uma mudança política e eleitoral que pode ter muito a ver com a própria mudança geracional no universo eleitoral da Região.
Depois dos piores resultados nas regionais de 2015 - maioria absoluta por um deputado e por escassa margem de votos - e nas legislativas nacionais - perda de um mandato e descida acentuada da votação - seguem-se agora as autárquicas - pior resultado eleitoral de sempre e apenas 3 camaras municipais - ainda por cima num quadro em que a abstenção registou uma estabilização, não se agravando como era habitual.
Acho que não precisamos de mais argumentos para reconhecer que é preciso, o PSD, fazer alguma coisa e rapidamente, pensando em 2019 que será um ano eleitoral exigente.
Os resultados de domingo terão impacto negativo na base eleitoral do PSD que dificilmente sentirão alguma motivação sobretudo nos concelhos onde eleitoralmente as coisas correram mal. Ficam sempre mas e para que esse desencanto não se acentue o PSD tem que ir rapidamente para o terreno.


-  ERROS

Acho, pelo que constatei e me testemunharam, que foram cometidos erros no processo de escolha de alguns dos candidatos, foram tomadas opções sem ter em consideração o que pensavam as pessoas sobre as diferentes alternativas em cima da mesa, suspeito que foram tomadas decisões por imposição - em 2013 também se verificou isso - que acabaram por gerar desagrado, causar divisões, afastar pessoas. Sei de militantes históricos do PSD que apoiaram candidaturas que não as social-democratas, mas que continuarão a ser eleitores do PSD nas regionais.
O PSD é o partido mais votado em termos individuais, tal como foi em 2013, mas dificilmente pode reclamar vitória eleitoral. No caso das autárquicas são os votos que elegem mandatos que é o que realmente conta neste ato eleitoral, as câmaras e as freguesias ganhas ou perdidas.
Admito que tenha havido influencia, direta ou indireta, positiva para o PS ou negativa para o PSD, quer da governação atual liderada por António Costa - o PS obteve o melhor resultado de sempre a nível nacional - quer do negativismo subjacente e ainda presente associado à governação do executivo de Passos Coelho (a par do discurso que este tem insistido), e que acabou por propiciar ao PSD o pior resultado de sempre nas autárquicas em termos nacionais. Estes factos têm sempre influência, e a Madeira não é exceção.

- SURPRESA

Mais do que a recuperação do Porto Santo por uma margem mínima de votos, ou o reforço de Cafofo no Funchal, a principal surpresa foi sem dúvida a queda da Ponta do Sol - que foi sempre um bastião social-democrata, embora neste concelho a gestão política tenha assentado nos últimos tempos num acumular de erros intoleráveis, muitos deles motivados ainda pelo fato de Miguel Albuquerque não ter ganho as diretas de 2015.
O que se passou na Ribeira Brava era um cenário que esteve sempre presente há muito tempo e que indiscutivelmente resulta de erros próprios, de algumas deficiências no processo de escolha de candidatos. Conheço Ricardo Nascimento, sei que foi apenas eleito em 2013 para um primeiro mandato, é uma pessoa séria, pelo que não entendi o que é que levou ao seu afastamento, num concelho que foi sempre fiel ao PSD, salvo o facto de ter apoiado nas diretas de 2015 um outro candidato nessa corrida. Ninguém conseguiu desmentir até hoje, de forma séria, esta suspeição que se instalou há muito junto das pessoas, desde logo entre os eleitores da Ribera Brava que deram a Nascimento uma vitória ainda mais folgada do que a obtida em 2013.
O PSD precisa de acabar com ajuste de contas, precisa de chamar pessoas colocadas à margem porque lhes colocaram um carimbo na testa de "jardinista" e tem que entender que a renovação não pode ser conflituosa nem se pode o limitar a mudar pessoas, muitas delas sem perfil e sem com preparação para assumirem responsabilidades políticas. Acho que não se pode abusar de conceitos de renovação que basicamente se confundem com ajustes de contas entre pessoas, muitas vezes vivendo em meios pequenos atitudes que, por isso, acabam por ter repercussões sociais e políticas negativas.
Aliás se nos baseássemos nos resultados de 2015 e agora nos de 2017, provavelmente as conclusões, politicamente falando, teriam de ser bem mais complexas.
Os partidos e os políticos dizem sempre que em democracia o povo é que tem razão. Contudo acham sempre que o povo vota bem ou mal se os resultados vão ou não ao encontro das expectativas desses políticos e desses partidos.
O povo madeirense votou uma vez mais bem, independentemente de quais tenham sido as suas opções nas urnas. E há que respeitar essa escolha. Para mim a decisão expressa nas urnas é sagrada. Não admito sequer que ela seja posta em causa como repetidamente aconteceu no passado quando partidos e políticos da oposição tentavam encontrar desculpas idiotas para justificar derrotas ou explicar vitórias dos adversários.
Há gente que durante anos - de não falo no PSD - tratou depreciativamente os eleitores madeirenses, sobretudo das zonas não urbanas, catalogando-os de "vilões" (ou a "viloada"), tentando passar um testado de menoridade às pessoas só porque votavam repetidamente PSD. Lembro-me muito bem disso
A verdade é que ontem como hoje a legitimidade do voto é inquestionável e o povo vota sempre bem. Com autoridade democrática e moral.
Aliás, e curiosamente, tem vindo a aumentar a prova de que o eleitorado madeirense está cada vez mais esclarecido sobre o que faz e de quais são as suas prerrogativas e escolhas. Por exemplo nestas eleições autárquicas nota-se que há diferenças acentuadas nos resultados para as Câmaras ou as Juntas de Freguesia, na mesma secção de voto, tudo porque há uma componente pessoal, de confiança pessoal entre o eleitor e o candidato que determina essas oscilações eleitorais. Por exemplo, vemos numa freguesia um partido A ser o mais votado, ganhando a Junta, mas o partido B ser o mais votado, pelas mesmas pessoas, para a Câmara Municipal.
Julgo que o PSD - e demais partidos em geral - precisa entender que há uma renovação no universo eleitoral regional. Ou seja, há uma renovação geracional, muita gente que durante anos, décadas, constituiu uma fiel e numerosa base de apoio e sucesso eleitoral do PSD, que deixou de o ser, ou porque as pessoas foram falecendo naturalmente, ou porque estão desmotivadas devido ao impacto negativo da crise de 2011 e da austeridade nojenta que se seguiu, ou porque simplesmente não deixaram de votar, desinteressando-se dos processos eleitorais.

- FUNCHAL

O que aconteceu no Funchal é sobretudo uma vitória que tem um cunho pessoal de Cafofo e o mérito de uma máquina eleitoral que nunca poderia ser enfrentada e derrotada com base num discurso demasiado generalista, assente em promessas ou banalidades. Quem está na oposição não pode cair nesse erro. Ou marca a agenda, ou assume o comando do debate político, ou vai ser trucidado. No Funchal houve vários trucidados. O que faltou foi sobretudo a componente política. E falhou - mas confesso que também não sei o que dizer quanto a isso - a mensagem a dirigir aos eleitores tentando estabelecer a diferença entre duas candidaturas. Por que razão votar em A era diferente do que votar em B? O que ficaria a ganhar a cidade se as pessoas votassem em A e o que perderia a cidade se as pessoas votassem em B? A opção foi pelo ataque à gestão camarária, por vezes pormenorizada (sem interesse para os cidadãos em concreto) que tendo tido - e teve - pontos negativos teve também alguns positivos.
O PCP foi o primeiro derrotado, a primeira vítima dessa indefinição, devido a uma postura, depois das eleições de 2013, que não está de acordo com a atitude do PCP junto das pessoas e o trabalho de campo que realiza.
O PCP é um partido que trabalha muito diretamente com as pessoas, que dá atenção às zonas altas do Funchal, mas tem que perceber que há eleitoralmente uma tremenda volatilidade em tudo isso. Basta que consultem os resultados das seções de voto para perceberem que provavelmente esse trabalho de campo depois não tem retorno eleitoral. Acresce que o eleito do PCP entre 2013 e 2017 "desapareceu", diluiu-se no executivo camarário, surgiu demasiado colado a este, passando a ser olhado como apenas mais um. Nunca o PCP conseguiu criar junto das pessoas a ideia de que votar neste mesmo candidato comunista era diferente de votar Cafofo. Ora a praxis desmentiu o que não deixa de ser estranho depois do espetacular resultado de Edgar Silva nas presidenciais de 2016.
O PCP, apesar de não ter grande expressão regional, tem que repensar um pouco a sua postura neste domínio, já que o calculismo evidenciado - e que por pouco não ia penalizando também o CDS pelos mesmos pecados dos comunistas... - acabou por colocar na mesma floresta árvores diferentes.
Rubina Leal fez o que podia fazer. Acho que não tinha uma máquina politicamente agressiva - no bom sentido ara enfrentar o grupo de Cafofo. A ideia de que há que mudar o discurso só por mudar, tornando-o mais vulgar e generalista, é uma tontice. Vejam a campanha de António Costa a nível nacional a forma frontal e contundente como politicamente geriu o confronto com os opositores do PS e os resultados que conseguiu alcançar com isso.
Fazer uma campanha assente na apresentação de uma sucessão de promessas - aparentemente houve ou não um manifesto eleitoral que funcionasse como o compromisso entre uma candidatura e o eleitorado? - deixou a ideia de que não houve também a preocupação quanto a um levantamento prévio dos problemas da cidade, ouvindo as pessoas mesmo antes de formalizar candidaturas. As pessoas gostam de ser ouvidas, gostam de ser consideradas e envolvidas. Por isso as promessas iam surgindo com a própria evolução da campanha, enquanto Cafofo se limitava a prometer mais do mesmo e a melhorar o que fizera até então.
Não foi fácil a Rubina Leal enfrentar uma máquina de propaganda eleitoral - de Cafofo - que nada teve a ver com o PS mas que agora, de forma oportunista, tenta colar-se e captar vantagens que não são dos socialistas mas antes partilhadas por todos os partidos que integraram a coligação.
Penso também que o PSD começou a tratar de forma séria esta candidatura muito tarde, deveria ter tratado do assunto mais cedo, sem dar nas vistas, porque sabia que estava em desvantagem.
Vou dizer uma coisa que pode não agradar mas é real: o processo eleitoral no Funchal, na ótica do PSD, começou demasiado tarde e também suspeito que o PSD acreditou demasiado no eventual sucesso de uma candidatura que logo nos primeiros sinais (sondagens) deveria ter alterado a estratégia eleitoral que confesso não saber se foi dirigida apenas pela própria candidata se pelo partido. A candidatura, sem ofensa para ninguém, salvo um ou outro nome, também não integrava pessoas que mobilizassem com a sua presença os eleitores. Havia muita gente conhecida nalguns meios sociais mas que para a generalidade das pessoas não era. E hoje as siglas como no passado deixaram de ser garantia de sucesso eleitoral. Passou a haver uma conjugação de fatores que antes, e durante anos, se sentiam de forma mais ténue.
Eu percebo que a ideia era renovar, mas a renovação não pode ser feita nestes termos, tanto mais que o PSD tinha na Madeira dois grandes exemplos - nas eleições de 2015 - de que as renovações feitas a martelo, apressadamente e com algum radicalismo à mistura acabam por virar-se contra os próprios.

E agora?

Desde logo estes resultados dão legitimidade a Albuquerque para tomar decisões. Ele tem que pensar por si e decidir por si, sem pressões, sem dar muita atenção a sugestões mesmo de pessoas que trabalhem com ele. Ele tem que olhar para a realidade política e eleitoral entretanto criada - e sei que o pode fazer porque o conheço há muitos anos e é uma pessoa inteligente e séria - e perceber que o PSD precisa de recuperar uma parcela muito importante do seu eleitorado, que apoiou candidaturas de cidadãos, que eventualmente votou em candidaturas de outros partidos ou se manteve na abstenção por descrença. As eleições regionais de 2019 serão diferentes, como é evidente, julgo que serão as mais difíceis de todas a provavelmente as mais decisivas para os social-democratas.
O PSD porventura terá que ter uma outra forma de estar no terreno, de se organizar e de funcionar, o encerramento de sedes, inevitável por causa de questões financeiras, distanciou ainda mais a estrutura dirigente das bases e das estruturas intermédias de direção local ou municipal, pelo que há que encontrar outras alternativas que mantenham esse contacto e essa auscultação. Há que ouvir os militantes e essas estruturas dirigentes. Não podemos estar a impor soluções a partir do Funchal ou julgar que sentados em confortáveis sofás na capital temos o puzzle da realidade regional. Não temos.

COMICIOS ENGANADORES

E por favor, deixem-se de “falsificar” comícios, de encher os locais com militantes e simpatizantes levados de um lado para outro, para dar uma ideia de pujança através dos média, mas que distorce a realidade e acaba por alimentar a ideia de que as cosias estão "bem," quando na realidade o que se passa é a construção de uma imagem leia-se, de uma realidade eleitoral, sem correspondência com a realidade social na freguesia ou no concelho. Aliás esta questão nem é de hoje, não é apenas um problema do PSD.

- CONGRESSO?

Não acredito que seja preciso um congresso porque isso fragilizaria ainda mais o PSD regional. Não há movimentos organizados de contestação da liderança - há vozes isoladas que criticam ou contestam, mas que aos olhos dos militantes e da opinião pública poderiam significar um retorno a um passado recente que também uma das causas do que hoje se passa com o PSD regional.
Miguel Albuquerque tem que chamar a si a condução do assunto, politicamente falando, tem que agarrar o boi pelos cornos como se costume dizer e tomar decisões que recoloquem o PSD nos caminhos da política pura e dura. Se entender convocar um congresso para se legitimar e proceder a essas alterações é uma decisão dele. Não creio que para já seja essa a opção.
Não vi - mas o erro pode ser meu - membros do governo envolvidos nesta campanha eleitoral, dando ajuda a candidaturas mais fragilizadas que porventura não recusariam uma solidariedade a esse nível. Vi o Presidente do Governo e do partido empenhado, marcando presença em comícios, mas não vi nenhum dos demais membros do governo - admito que muitos deles não tenham perfil político e não se sintam muito à-vontade neste domínio, com o devido respeito, das campanhas eleitorais propriamente ditas. Não sei se foi uma opção do PSD ou do Governo Regional, desconheço em absoluto, não sei se foi uma opção das candidaturas prescindirem da presença dos membros do Governo. Mesmo tratando-se de um pormenor insignificante para alguns, é uma matéria que deixa no ar muitas interrogações e que pode suscitar alguma polémica.
Que fique claro, enquanto militante do PSD. Amigo de longa data do líder, desde a meninice, estou com Miguel Albuquerque 100%. Digam dele o que disserem. Estou-me nas tintas, rigorosamente. Só lhe peço que não se esqueça daquela frase “Rei fraco faz fraca a sua gente” - LFM

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