Desde que Cristiano começou a ser o Ronaldo que hoje conhecemos, ou seja, a partir do momento em que se transformou numa máquina de números e golos no Real Madrid, este pode ser o ano civil em que acaba com a barriga mais vazia. Todos sabemos muito bem que Cristiano Ronaldo é hoje o que é porque há uns anos se rendeu a uma evidência, tomou uma decisão e trabalhou-a como a máquina de trabalho que sempre foi. Chegado ao Real Madrid, em 2009, foi assim: estava no melhor clube do mundo, tornava-se no jogador mais caro do mundo e aproximava-se, geográfica e futebolisticamente, do único tipo que o atrapalhava na demanda de ser o melhor nos números e na opinião das pessoas. Messi, obviamente.
A partir daí - e esta conversa já é velha e tem barbas longas e brancas -, Cristiano cortou na produção de fintas vistosas, toques bonitos e artimanhas junto às linhas, para canalizar energias na arte de precisar do menor número de toques possível para rematar uma bola à baliza. De extremo driblador na linha passou a um dos melhores rematadores a partir de uma linha, para chegar à área e ser servido por outros. Ele precisa de mudar a forma de jogar para marcar golos atrás de golos, pois percebeu que fintar, inventar raides com a bola, fazer túneis, imperar sobre qualquer adversário e marcar mais de 50 golos por época, tudo ao mesmo tempo, era uma façanha que só um pequeno argentino lograva, consistentemente. Portanto, Cristiano mudou e passou a ser números.
Ou golos:
- 2010: 48
- 2011: 60
- 2012: 63
- 2013: 69
- 2014: 61
- 2015: 57
- 2016: 55
- 2017: 53*
* um jogo para disputar
A partir de 2010, primeiro ano civil que completou no Real Madrid, em que ainda estava a apurar a mutação, não houve 365 dias em que não marcasse, pelo menos, 55 golos. Especializou-se no milagre da multiplicação do propósito de um jogo de futebol, a coisa que ganha jogos, decide títulos e, sobretudo, dá nas vistas. Com eles vieram as Liga dos Campeões, o Campeonato da Europa e o que Ronaldo mais preza, as Bolas de Ouro. Quem marca mais golos estará sempre mais perto de ganhar. Mas, agora, Cristiano pode estar à beira de fechar o seu pior ano civil desde que se tornou neste Cristiano que conhecemos - mesmo que empregar a palavra “pior” soe muito mal. Porque o capitão da seleção nacional vai com 53 golos marcados em 2017 e tem apenas mais um jogo para igualar os 55 com que acabou o ano passado. E vai ter que decidir esta corrida contra ele próprio no meio de uma outra, as duas que mais o alimentam: no Real Madrid-Barcelona, no sábado, onde estará Lionel Messi.
Tudo o que Ronaldo faz ou deixa de fazer é medido à escala do que Messi vai fazendo, e vice-versa, uma balança que faz com que seja natural que ambos estejam na luta para ver quem será o melhor marcador neste ano civil. Para já, o Robert Lewandowski vai na frente, com 54 golos, contra os 53 do português e do argentino, todos seguidos pelos 52 de Edinson Cavani e pelos 50 de Harry Kane. O rematador pneumático inglês do Tottenham, contudo, tem mais duas partidas até ao fim do ano. O Cristiano Ronaldo dos golos, dos recordes e das tareias nas estatísticas só tem um jogo para não ser um antónimo do que é há seis anos. O problema é que esse jogo é dos mais difíceis de se jogar.
- Robert Lewandowski: 53 golos (54 jogos)
- Cristiano Ronaldo: 53 golos (59 jogos)
- Lionel Messi: 53 golos (63 jogos)
- Edinson Cavani: 52 golos (61 jogos)
Harry Kane: 50 golos (50 jogos) (texto do jornalista do Tribunal Expresso-Desporto, DIOGO POMBO)
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