A loucura pela procura de imóveis também chegou à
Região Autónoma da Madeira. São portugueses, muitos provenientes da Venezuela,
mas sobretudo estrangeiros que fizeram com que, no último ano, o crescimento
médio do preço das casas e o valor das avaliações bancárias tenham disparado.
De acordo com dados da Direção Regional de Estatística da Madeira, no segundo
trimestre de 2017 foram vendidos 616 alojamentos familiares. Um número
ligeiramente inferior aos 693 do trimestre anterior mas superior às 523 casas
vendidas em igual período de 2016. Contas feitas este ano, até junho, houve
1309 casas vendidas, correspondendo a €158,1 milhões — em seis meses, mais de
metade do número que foi possível apurar para todo o ano de 2016 (2247),
equivalente a €275,8 milhões. Uma tendência que se verifica desde o último
trimestre de 2015 e a que o fenómeno do regresso de muitos portugueses
emigrados na Venezuela, mas também na África do Sul, não é alheio,
principalmente quando falamos do mercado de luxo — casas acima de meio milhão
de euros. É pelo menos esta a sensibilidade da Sotheby’s, que está na Madeira
há cerca de um ano e trabalha em exclusivo com a classe alta. Ao Expresso, o
diretor-geral da Sotheby’s, Miguel Poisson, diz que “a maioria dos negócios são
com clientes internacionais [cerca de 66%]”, dos quais metade são cidadãos da
União Europeia (33%), sendo as nacionalidades mais representativas a francesa,
a sueca, a alemã, a inglesa e a norueguesa.
Os restantes 33% são de fora da União Europeia, mas
apesar de o destaque ir para a Venezuela e para a África do Sul — pela via da
obtenção de vistos gold — a verdade é que uma boa parte destes tem de ser
considerada compra por parte de portugueses, por se tratarem de emigrantes e
lusodescendentes. Miguel Poisson afirma que as finalidades da compra são
variadas — desde a habitação própria por parte de muitas famílias do segmento
alto que estiveram expectantes durante a crise até à compra para segunda
habitação, passando pelo investimento para revenda ou arrendamento e pela
procura para alojamento local, particularmente através da remodelação de
apartamentos, sobretudo no centro histórico do Funchal.
OFERTA NÃO CHEGA PARA TANTA PROCURA
Com tanta procura, é natural que os preços subam, já
que a oferta não tem conseguido dar resposta. Em média, o preço das casas subiu
cerca de 5% no último ano. E os dados oficiais mostram que o valor médio global
da avaliação bancária na região disparou €86 por metro quadrado em apenas um
ano. Uma média que sobe para mais de €141 por metro quadrado se considerarmos
só as avaliações no Funchal, entre outubro de 2016 e outubro passado.
O diretor-geral da Sotheby’s está otimista. Garante
que “há produto e haverá mais no futuro, porque começam a aparecer novos
projetos”. No segmento sem ser de luxo, o responsável da RE/MAX na Madeira
critica a falta de oferta e aponta o dedo à Câmara Municipal do Funchal. Ao
Expresso, Jaime Abreu assegura que “o pelouro do urbanismo não dá respostas. Há
muito investimento parado à espera e perdem-se negócios”. A falta de casas é
uma das razões pela qual a RE/MAX não crescerá muito na Madeira este ano face
ao ano passado. Com duas agências na ilha, a imobiliária estima, a pouco mais
de 15 dias de fechar o ano, que já atingiu um volume de negócios de cerca de
€26,5 milhões, com o preço médio de venda a rondar os €350 mil.
Também neste caso, os clientes são, sobretudo,
portugueses, onde se incluem lusodescendentes e emigrantes oriundos da
Venezuela, garante Jaime Abreu. Já no que toca à procura por parte de
estrangeiros, “continuamos om o mercado tradicional: inglês e alemão”. A que
acrescem os mercados francês e belga. E alguns holandeses. “O mercado mudou.
Quem tinha €200 mil ou €300 mil no banco deixou de confiar ou sente que há
falta de remuneração e opta por investir em imóveis”, constata o especialista
da RE/MAX. Os números do crescimento da compra de casas no arquipélago são
corroborados pela banca. “O mercado de crédito à habitação na Região Autónoma
da Madeira tem vindo a mostrar tendência positiva, que se deve manter”, refere
fonte oficial do Santander Totta, o banco que detém uma quota de mercado
próxima de 25%, com um em cada quatro dos novos contratos à habitação a ser
feito pela instituição. A mesma fonte assegura que esta procura “está
concentrada no regresso dos emigrantes, principalmente da Venezuela, no aumento
do peso do investimento estrangeiro (ingleses, russos e franceses) e
naturalmente na população local, quer por troca de casa ou aquisição de novas
habitações”.
De resto, o Santander Totta é também o banco com mais
balcões, fruto da aquisição do Banif. É seguido de longe por BCP e CGD. O
Millennium bcp assegura que o crédito à habitação cresceu 42% na Madeira nos
primeiros nove meses do ano face ao homólogo, embora “operações contratadas por
cidadãos estrangeiros sejam residuais”. Uma posição semelhante à da CGD. Fonte
oficial do banco público diz que a quota de mercado na Madeira está em linha
com a evolução e a quota no contexto do mercado nacional como um todo. Para o
diretor-geral da Sotheby’s, este fluxo não vai parar, até porque a Madeira
acaba por beneficiar dos bons ventos que sopram no continente em matéria de
imobiliário: “Fruto da melhoria das condições económicas e de mais concessão de
crédito. Além disso, Portugal é divulgado lá fora como excelente destino e com
um regime fiscal muito favorável para estrangeiros”, recorda Miguel Poisson
(Expresso, texto da jornalista Alda Martins)
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