quarta-feira, abril 25, 2018

25 de Abril e a hipocrisia e as tretas do costume ante a realidade 44 anos depois


Quando vamos assinalar o 44º aniversário do 25 de Abril, é importante desmistificar de uma vez por todas estas tretas que se repetem todos os anos, nas arenas políticas do costume, alindadas com muitos cravos, com os partidos políticos a florearem os seus discursos - uns mais do que outros - indiferentes ao país real que somos e recusando o facto de os cidadãos olharem para aquilo e concluírem facilmente que tudo não passa de uma treta para enganar ceguinhos.

De que nos serve andarmos a repetir todos os anos as mesmas cenas, os mesmos filmes - aqui e além com atores diferentes - se o que nos interessa é o pais real, o país da saúde, o país da educação, o país dos pensionistas e dos reformados, o país dos idosos, o país dos jovens sem expectativas milhares dos quais estão no estrangeiro, o país do desemprego, o país refém da troika e das agências de rating, o país de uma dívida descomunal, o país das máfias financeiras e empresariais, o país da carga fiscal que na realidade é uma ladroagem legalizada, o país de uma classe política sem categoria e sem credibilidade, cada vez mais distante dos cidadãos - porque muitos deles não passam de uma corja de oportunistas que usam a política para tratarem da sua vidinha futura - o país das relações de trabalho absolutamente vergonhosas e desumanas, o país dos endividados, o país das insolvências, o país das hipotecas forçadas que destroem famílias, o país da banca que decide impunemente - uma banca cada vez mais entregue a capitais estrangeiros e que garantidamente conta com a cumplicidade silenciosa dos partidos, graças às dividas milionárias que estes contraíram junto do sistema financeiro - o país das empresas que já foram públicas, cada vez mais agindo impunemente sem que ninguém as penalize, empresas que ameaçam milhões de consumidores, degradando serviços e desrespeitando os utentes, empresas que roubam todos os dias os seus clientes para poderem apresentar lucros duvidosos e distribuírem dividendos aos acionistas esfomeados que apenas querem encher a pança, etc, etc.
É este o país que num clima de repetida hipocrisia vai comemorar o 25 de Abril. Comemorar o quê? Que merda há para comemorar 44 anos depois da revolução que em 1974 ou escassos anos depois - como se viu na Europa do leste - seria inevitável? Alguém duvida que a ditadura portuguesa derrubada em 1974 nunca seria capaz de sobreviver às grandes mudanças políticas, sociais e económicas, ocorridas de forma acelerada na Europa nos anos oitenta e noventa?
Dá-me vontade de rir ouvir PS, PSD e CDS andarem por aí a falar do 25 de Abril. Do PCP já nem falo porque há 44 anos que pretende ser o dono exclusivo da revolução portuguesa. Com o Bloco agora bem colado ao rasto dos comunistas. O PS, apesar da sua memória curta, foi o grande e último responsável pelo colapso financeiro do país, uma governação que nos conduziu aos braços da troika em 2011, governação essa que está marcada pela corrupção vergonhosa e descarada ainda sob investigação da justiça portuguesa demasiado lenta para condenar a bandidagem que por aí anda roubando tudo e todos impunemente numa orgia de corrupção suja nos bastidores e subterrâneos mais nojentos da sociedade portuguesa, realidade essa que o 25 de Abril não acabou, bem pelo contrário. PSD e CDS foram protagonistas de uma política governativa das mais rafeiras e antissociais de que há memória - mais do que acatar a troika havia uma missão desencadeada em nome de um liberalismo selvagem que acaba com a classe média - que retirou direitos às pessoas e encheu a pança aos capitalistas e aos bancos.
Aliás, não foi com estranheza que na divulgação das escutas do caso Sócrates, tenha ouvido um conhecido banqueiro reconhecer perante os magistrados que o seu objectivo foi o de colocar Passos Coelho no poder. Está lá dito, preto no branco. Por que motivo? Que causa afinal serviram o Coelho, Portas e seus aliados? Hoje são capazes de aparecerem publicamente a cag... tretas de endeusamento do 25 de Abril que foi feito - ou devia ter sido feito - para dar cabo dos resquícios do capitalismo, mas que afinal, paradoxo dos paradoxos, permitiu a sua progressiva consolidação e o encher da pança. Que raio de 25 de Abril é este, num país que arranja sempre que necessário milhares de milhões para a banca, quando retira apoios sociais aos desempregados, ou não respeita os idosos, muitos deles com pensões miseráveis, que não investe como devia na saúde e na educação?
Que treta de comemorações são estas num país cada vez mais a braços com casos de corrupção de colarinho branco, com uma corja de bandidos que nem a justiça e o desporto poupa, e sem que o coitado do povo - que sabe que um cidadão pobre é rapidamente condenado por roubar uma galinha ou umas cuecas numa loja de roupa - possa reagir e protestar?
O PSD do 25 de Abril - não podemos dizer historicamente isso do CDS como é sabido - considerando que foi albergue de alguns cidadãos que fizeram parte da história da luta contra a ditadura, esse PSD morreu já muitos anos. Hoje é um PSD tomado de assalto, que está minado nas suas estruturas mais essenciais, manipulado, condicionado por viúvos e viúvas de um período recente que a todos nos envergonha mas que parece gerar nessa corja um saudosismo patético.
Que garantias temos que tudo isto vai terminar bem, que a realidade do país é aquele quadro colorido que o governo socialista nos pinta? Que garantias nos dá um ministro das finanças que é mais Presidente do Eurogrupo - e alegadamente à procura de um tacho europeu no próximo mandato - e cada vez menos um ministro das finanças, apostado se necessário for em entalar-nos a todos, para sair com a sua imagem pessoal preservada?
Perante isto o que me apetece dizer, com toda a força, é apenas um desabafo: vão comemorar o 25 de Abril para o c.... Façam-nos esse favor. Deixem-se de hipocrisias (LFM)

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