sábado, janeiro 05, 2019

A propósito de ditadores, ditaduras, televisões e liberdade


Confesso que não tenho opinião formada (ainda) em torno desta polémica sobre a ida de um personagem de um partido extremista de direita à TVI para uma entrevista qualquer. Sei que causou incómodo e que a TVI tomou medidas, inclusivamente suspendendo esse espaço de entrevista que parece integrar o programa do Goucha. Acho que é isso. É-me indiferente porque não vi nem alguma vez veria. Mas interrogo-me sobre este estranho "politicamente  correcto" subjacente a  algumas opiniões, que chegam a roçar o absurdo e o patético pela submissão idiota que expressam.
Se em democracia - dizem alguns - não nos devemos incomodar com  a presença nas televisões de personagens extremistas e insignificantes como este Machado - ignorando eles que isto é um tempo e uma oportunidade de propaganda desejada e que, por isso, é um dos objectivos deles (dizem uns entendidos que é ouvindo-os que mais depressa os rejeitamos. Eu pergunto: e o inverso não existe? Não pode ser ouvindo-os que os seus defensores aumentam?) - também existe o outro lado da moeda que de forma oportunista esses apregoadores ingénuos do "politicamente correcto" esquecem.
Em qualquer ditadura, em qualquer regime totalitário, as televisões banem o acesso diversificado de opiniões divergentes aos regimes que controlam as suas televisões vistas apenas como instrumentos de propaganda essenciais à sobrevivência. Depois de quase 50 anos de fascismo e ditadura em Portugal será que  alguém ainda não apreendeu com esse passado - apesar de tudo o que mudou na sociedade em termos de comunicação, de redes sociais, do impacto mediático, etc - e perceber que nas ditaduras quem pensa de forma diferente do regime não tem oportunidade sequer de dizer que pensa de forma diferente e explicar porque pensa de forma diferente?
Confesso que a minha tolerância democrática pessoal, assumida e inegociável, não se compadece com este oportunismo do "politicamente correcto" para alindar conversas ou enganar as pessoas.
Eu acho que defensores das ditaduras e de ditadores num regime democrático onde se respeita a liberdade de opinião e se odeia as cruzes e outros símbolos nazis, não devem ter oportunidades iguais às dos demais cidadãos que os toleram e que permitem que essa corja de bandidos ande por aí fazendo as suas patifarias. Por isso, repito, sem opinião formada sobre os contornos do que se passou e do interesse de tal entrevista, acho que foi um tiro-no-pé da TVI, embora respeite quem pense o contrário. A minha tolerância para com os apologistas das ditaduras é zero.
Mas acho que esta discussão tem ainda mais dois itens que revelam a dimensão ridícula subjacente e sobretudo a muita hipocrisia porca de alguns oportunistas, eles próprios defensores declarados de ditadores e de ditaduras de sinal oposto à do Machado mas igualmente asquerosas.
Por um lado quando se fala em ditaduras e ditadores eles não são só a extrema direita. Nem há a treta das ditaduras más e das ditaduras boas, dos ditadores sanguinários e dos ditadores bonzinhos! Temos uma extrema esquerda - por sinal muito cooperante e amigalhaça da extrema-direita, nas manifestações dos amarelinhos em França. O patético é que em Portugal os adeptos do Estalinismo, do Cubanismo, do Madurismo/Chavismo, do maoismo, do Norte-coreirismo etc, aparecem publicamente a dar expressão à sua "indignação" idiota quando são eles próprios iguais ou piores que estes Machados e às idiotices que eles defendem. É que em Portugal enquanto os Machados estão longe do poder, há apologistas encapotados de ditaduras de esquerda e de visões sociais e políticas de extrema esquerda que já andam já nos corredores do poder e sonham em ser mais do que meros insignificantes passeantes de bastidores.
Uma nota final: quando as democracias em nome do "politicamente correcto" ou de tiques de tolerância democrática excessiva contra o seus adversários e inimigos - porque a democracia tem inimigos - as democracias dão tiros-nos-pés e fragilizam-se. E quando a classe política, ao mesmo tempo - estas estranhas coincidências... - tem atitudes intoleráveis (falo dos casos recentes) que causam a irritação das pessoas e as indignam, a democracia tem que ter a coragem e a dignidade suficientes para agir em conformidade e acabar de uma vez por todas com essas indignidades que conspurcam a democracia e alimentam os extremismos que tememos e em relação aos não podemos ter qualquer tolerância (LFM)

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