Quando o povo, cansado, enganado, desiludido e frustrado com tudo, diz que "isto só vai à bomba" mais do que uma figura retórica - nalguns casos nem sei o que dizer... - é uma forma de dar expressão a uma frustração social generalizada que esbarra na falta de organização, na dispersão de interesses dos grupos de pressão, na passividade social, etc. Como é possível que depois do gamanço escandaloso e vergonhoso de milhões de milhões, e das patifarias dos bandidos, que estão devidamente identificados, que sabemos todos quem são, o que fazem, por onde andam, onde e como vivem, etc, que a justiça nada apresente de concreto, que nada tenha feito até hoje para penalizar esses bandalhos, mas perde tempo com discussões idiotas ou gosta de perseguir os chamados "pequenos delitos" ou os "pequenos criminosos" porque é mais fácil e porque não têm recursos financeiros para usarem todos os expedientes que a justiça lhes propicia.
Vou contar-vos, a propósito da bandalheira corrupta do ex-BES - o tal banco que há dois anos alguém disse que iria continuar a custar aos portugueses muitos milhares de milhões de euros até pelo menos 2050... - que decorrem de duas notícias publicadas recentemente, com um dia de diferença entre elas. Notícias que demonstram que há um mistério em torno do que se passou com o ex-BES que começa a alimentar muita especulação, a suscitar estranheza e muita dúvida, a legitimar muita pergunta sem resposta, porque neste pantanal de lixo são já várias as entidades que nele se banham.
Episódio 1
Novo Banco recorreu a detectives para “caçar” devedores
(mas foi em vão)
Notícia publicada em 14
Março, 2019
Foi com perplexidade
que os deputados ouviram as explicações dos responsáveis da Comissão de
Acompanhamento do Novo Banco no Parlamento, onde se ficou a saber que a
entidade financeira chegou a contratar detectives privados internacionais para
investigar a fortuna de devedores, mas sem sucesso. Falando da dificuldade de
cobrar alguns grandes créditos, Bracinha Vieira revelou que a comissão de
acompanhamento perguntou ao Novo Banco se seria “possível contratar uma firma
de detectives internacionais para tentar junto de ‘offshores’ investigar a
fortuna” de um determinado cliente. A resposta do Banco terá sido que isso
estava a ser feito, mas sem sucesso. “Com surpresa minha já contratamos uma
firma, mas até agora não houve qualquer efeito”, acrescentou, notando que estão
em causa bens e dinheiro no Brasil e nos EUA. Também José Rodrigues de Jesus
reforçou que o Novo Banco “já andou atrás de pessoas a ver o que têm na América
do Norte e no Brasil”, na tentativa de que esses bens cobrissem os créditos.
Banco perdeu “brutalidade de dinheiro” com empreitadas no
estrangeiro
Bracinha Vieira falou
ainda de alguns dos créditos que mais problemas trazem ao Novo Banco e que
foram herdados do BES, notando que, em 2005 e 2006, houve um empréstimo
“descomunal” do BES para compra de acções do BCP e que essa operação levou a um
“prejuízo gigantesco” porque a garantia era um penhor de acções do BCP, que
desde então se desvalorizaram 96%.O mesmo elemento mencionou também garantias
que o BES deu para empreitadas no estrangeiro, revelando que em determinada
altura os governos de Argélia, Bolívia, Benim ou Congo “decidiram executar as
garantias” e o Novo Banco “teve de honrar a garantia de boa execução” perante
empreiteiros em dificuldades. O Novo Banco perdeu aqui “uma brutalidade de
dinheiro”, referiu. Há ainda
prejuízos ligados ao que se passou no Grupo Espírito Santo (GES), perante
investidores “irritados e indignados”. Houve
entidades que, perante perdas, “ou por estarem ligados ao dr. Ricardo Salgado
ou por terem títulos de empresas do grupo não financeiro”, “decidiram fazer
tudo para não pagar créditos que tinham ao Novo Banco”, colocando acções em
tribunal, acrescentou Bracinha Vieira.
“Sabia que isto era mau, mas não que fosse tão mau”
José Rodrigues de
Jesus, que também é bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas
(OROC), assumiu perante os deputados que o que encontrou no Novo Banco era pior
do que imaginava. “Eu sabia para o que vinha e sabia que isto era mau, eu não
tinha a ideia de que fosse tão mau”, sublinhou. O bastonário da OROC referiu
também que é provável que o buraco no Novo Banco continue a crescer,
justificando que “há uma forma de continuidade que é uma degradação”. José
Rodrigues de Jesus sustentou que o buraco já não deve ir “muito mais longe”,
mas “ainda há imparidades a fazer“, com “casos que vai ser preciso coragem para
resolver”. As declarações do responsável causaram perplexidade entre os
deputados, mas ele não quis esclarecer de que tipo de casos fala, escudando-se
no sigilo bancário, e referindo apenas que estão em causa “casos mediáticos” e
complicados “por causa dos nomes” envolvidos.
Em causa estarão
alguns dos grandes devedores da Caixa Geral de Depósitos, cuja lista já foi
divulgada. “Alguns daqueles nomes estão em todos os bancos, estão no BCP, na
Caixa, no Novo Banco”, assumiu José Rodrigues de Jesus.
No início do mês, o
Novo Banco anunciou que ia pedir uma nova injecção de capital ao Fundo de
Resolução de 1.149 milhões de euros, depois de ter divulgado prejuízos
históricos. Já no ano passado o Novo Banco recebeu 792 milhões de euros do
Fundo de Resolução, pelo que, a concretizar-se o valor pedido agora, as
injecções públicas na entidade financeira ficarão em mais de 1.900 milhões de
euros. Mas o Banco poderá pedir ainda mais dinheiro, já que o mecanismo de
compensação previsto, aquando da venda da entidade ao fundo norte-americano
Lone Star, determina que pode solicitar até 3.890 milhões de euros até 2026.
Bracinha Vieira
referiu no Parlamento que o Novo Banco deverá pedir até um máximo de 3.000
milhões de euros. Este responsável vaticina ainda que, segundo os planos
definidos, o Novo Banco vai atingir o ‘breakeven‘ (ponto em que um investimento
começa a ser rentável) em 2020. Depois disso, não haverá mais pedidos de
dinheiro ao Fundo de Resolução, assegurou aos deputados.
EPISÓDIO 2
Família Espírito Santo tem herdades de 884 milhões no
Paraguai que escaparam a arresto do tribunal
Notícia publicada em 15/3/2019
Nem toda a riqueza da
família Espírito Santo foi arrestada pelos tribunais. De acordo com o Jornal
Económico, seis propriedades detidas pelo Grupo Espírito Santo (GES)
localizadas no Paraguai podem valer até 884 milhões de euros e não foram alvo
do arresto de bens que acompanha o processo de insolvência do GES. O mesmo
jornal diz que, no total, as propriedades agrícolas têm uma área superior a 130
mil hectares, o que corresponde a duas ilhas da Madeira. A consultora Deloitte
está responsável pela venda das propriedades que pode levar a um encaixe entre
os 391 e os 1000 milhões de dólares (que correspondem a 884 milhões de euros). O
Jornal Económico conta a história destas seis propriedades, designadas por
“PAYCO” que foram compradas pela família em 1976, durante o Processo
Revolucionário Em Curso (PREC). E se em Portugal o governo era liderado pelo
comunista Vasco Gonçalves, o Paraguai era nesse momento liderado pelo ditador
Alfredo Stroessner. Os Espírito Santo fugiam da onda de nacionalizações do país
e tentavam recomeçar a sua atividade empresarial noutro país. Robert McNamara —
o secretário de Estado da Defesa dos EUA durante o tempo de Kennedy e
responsável pelo aumento do envolvimento norte-americano na Guerra do Vietname
— ajudou Manuel Ricardo Espírito Santo a criar o império agrícola na América do
Sul (Observador) (LFM)
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