domingo, março 17, 2019

Os mistérios do ex-BES: nem detectives descobrem o que os jornais depois denunciam...

Quando o povo, cansado, enganado, desiludido e frustrado com tudo, diz que "isto só vai à bomba" mais do que uma figura retórica - nalguns casos nem sei o que dizer... - é uma forma de dar expressão a uma frustração social generalizada que esbarra na falta de organização, na dispersão de interesses dos grupos de pressão, na passividade social, etc. Como é possível que depois do gamanço escandaloso e vergonhoso de milhões de milhões, e das patifarias dos bandidos, que estão devidamente identificados, que sabemos  todos quem são, o que fazem, por onde andam, onde e como vivem, etc, que a justiça nada apresente de concreto, que nada tenha feito até hoje para penalizar esses bandalhos, mas perde tempo com discussões idiotas ou gosta de perseguir os chamados "pequenos delitos" ou os "pequenos criminosos" porque é mais fácil e porque não têm recursos financeiros para usarem todos os expedientes que a justiça lhes propicia.
Vou contar-vos, a propósito da bandalheira corrupta do ex-BES - o tal banco que há dois anos alguém disse que iria continuar a custar aos portugueses muitos milhares de milhões de euros até pelo menos 2050... - que decorrem de duas notícias publicadas recentemente, com um dia de diferença entre elas. Notícias que demonstram que há um mistério em torno do que se passou com o ex-BES que começa a alimentar muita especulação, a suscitar estranheza e muita dúvida, a legitimar muita pergunta sem resposta, porque neste pantanal de lixo são já várias as entidades que nele se banham.

Episódio 1
Novo Banco recorreu a detectives para “caçar” devedores (mas foi em vão)
Notícia publicada em 14 Março, 2019

Foi com perplexidade que os deputados ouviram as explicações dos responsáveis da Comissão de Acompanhamento do Novo Banco no Parlamento, onde se ficou a saber que a entidade financeira chegou a contratar detectives privados internacionais para investigar a fortuna de devedores, mas sem sucesso. Falando da dificuldade de cobrar alguns grandes créditos, Bracinha Vieira revelou que a comissão de acompanhamento perguntou ao Novo Banco se seria “possível contratar uma firma de detectives internacionais para tentar junto de ‘offshores’ investigar a fortuna” de um determinado cliente. A resposta do Banco terá sido que isso estava a ser feito, mas sem sucesso. “Com surpresa minha já contratamos uma firma, mas até agora não houve qualquer efeito”, acrescentou, notando que estão em causa bens e dinheiro no Brasil e nos EUA. Também José Rodrigues de Jesus reforçou que o Novo Banco “já andou atrás de pessoas a ver o que têm na América do Norte e no Brasil”, na tentativa de que esses bens cobrissem os créditos.
Banco perdeu “brutalidade de dinheiro” com empreitadas no estrangeiro
Bracinha Vieira falou ainda de alguns dos créditos que mais problemas trazem ao Novo Banco e que foram herdados do BES, notando que, em 2005 e 2006, houve um empréstimo “descomunal” do BES para compra de acções do BCP e que essa operação levou a um “prejuízo gigantesco” porque a garantia era um penhor de acções do BCP, que desde então se desvalorizaram 96%.O mesmo elemento mencionou também garantias que o BES deu para empreitadas no estrangeiro, revelando que em determinada altura os governos de Argélia, Bolívia, Benim ou Congo “decidiram executar as garantias” e o Novo Banco “teve de honrar a garantia de boa execução” perante empreiteiros em dificuldades. O Novo Banco perdeu aqui “uma brutalidade de dinheiro”, referiu. Há ainda prejuízos ligados ao que se passou no Grupo Espírito Santo (GES), perante investidores “irritados e indignados”. Houve entidades que, perante perdas, “ou por estarem ligados ao dr. Ricardo Salgado ou por terem títulos de empresas do grupo não financeiro”, “decidiram fazer tudo para não pagar créditos que tinham ao Novo Banco”, colocando acções em tribunal, acrescentou Bracinha Vieira.
“Sabia que isto era mau, mas não que fosse tão mau”
José Rodrigues de Jesus, que também é bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC), assumiu perante os deputados que o que encontrou no Novo Banco era pior do que imaginava. “Eu sabia para o que vinha e sabia que isto era mau, eu não tinha a ideia de que fosse tão mau”, sublinhou. O bastonário da OROC referiu também que é provável que o buraco no Novo Banco continue a crescer, justificando que “há uma forma de continuidade que é uma degradação”. José Rodrigues de Jesus sustentou que o buraco já não deve ir “muito mais longe”, mas “ainda há imparidades a fazer“, com “casos que vai ser preciso coragem para resolver”. As declarações do responsável causaram perplexidade entre os deputados, mas ele não quis esclarecer de que tipo de casos fala, escudando-se no sigilo bancário, e referindo apenas que estão em causa “casos mediáticos” e complicados “por causa dos nomes” envolvidos.
Em causa estarão alguns dos grandes devedores da Caixa Geral de Depósitos, cuja lista já foi divulgada. “Alguns daqueles nomes estão em todos os bancos, estão no BCP, na Caixa, no Novo Banco”, assumiu José Rodrigues de Jesus.
No início do mês, o Novo Banco anunciou que ia pedir uma nova injecção de capital ao Fundo de Resolução de 1.149 milhões de euros, depois de ter divulgado prejuízos históricos. Já no ano passado o Novo Banco recebeu 792 milhões de euros do Fundo de Resolução, pelo que, a concretizar-se o valor pedido agora, as injecções públicas na entidade financeira ficarão em mais de 1.900 milhões de euros. Mas o Banco poderá pedir ainda mais dinheiro, já que o mecanismo de compensação previsto, aquando da venda da entidade ao fundo norte-americano Lone Star, determina que pode solicitar até 3.890 milhões de euros até 2026.
Bracinha Vieira referiu no Parlamento que o Novo Banco deverá pedir até um máximo de 3.000 milhões de euros. Este responsável vaticina ainda que, segundo os planos definidos, o Novo Banco vai atingir o ‘breakeven‘ (ponto em que um investimento começa a ser rentável) em 2020. Depois disso, não haverá mais pedidos de dinheiro ao Fundo de Resolução, assegurou aos deputados.

EPISÓDIO 2
Família Espírito Santo tem herdades de 884 milhões no Paraguai que escaparam a arresto do tribunal
Notícia publicada em 15/3/2019

Nem toda a riqueza da família Espírito Santo foi arrestada pelos tribunais. De acordo com o Jornal Económico, seis propriedades detidas pelo Grupo Espírito Santo (GES) localizadas no Paraguai podem valer até 884 milhões de euros e não foram alvo do arresto de bens que acompanha o processo de insolvência do GES. O mesmo jornal diz que, no total, as propriedades agrícolas têm uma área superior a 130 mil hectares, o que corresponde a duas ilhas da Madeira. A consultora Deloitte está responsável pela venda das propriedades que pode levar a um encaixe entre os 391 e os 1000 milhões de dólares (que correspondem a 884 milhões de euros). O Jornal Económico conta a história destas seis propriedades, designadas por “PAYCO” que foram compradas pela família em 1976, durante o Processo Revolucionário Em Curso (PREC). E se em Portugal o governo era liderado pelo comunista Vasco Gonçalves, o Paraguai era nesse momento liderado pelo ditador Alfredo Stroessner. Os Espírito Santo fugiam da onda de nacionalizações do país e tentavam recomeçar a sua atividade empresarial noutro país. Robert McNamara — o secretário de Estado da Defesa dos EUA durante o tempo de Kennedy e responsável pelo aumento do envolvimento norte-americano na Guerra do Vietname — ajudou Manuel Ricardo Espírito Santo a criar o império agrícola na América do Sul (Observador) (LFM)

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