sábado, março 16, 2019

Sondagem: Portugueses querem manter CGD como banco público e dividem-se quanto à renacionalização dos CTT

Ciclicamente, o tema volta à agenda mediática: deve a Caixa Geral de Depósitos (CGD) ser privatizada? A resposta, para a maioria dos portugueses, é um rotundo não. Esse é um dos resultados da sondagem ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC, com o trabalho de campo a ser realizado pela GfK Metris.Colocados perante a pergunta “Pensando na possibilidade de privatizar a Caixa Geral de Depósitos, ou seja, deixar de ser um banco público e passar a ser um banco privado, com qual das seguintes frases mais concorda?”, a maioria dos inquiridos (55%) defendem que “privatizar a CGD é uma má ideia em quaisquer circunstâncias”. Mais ainda, apenas 12% consideram a privatização uma boa ideia, enquanto 11% acham que enquanto a atual administração não terminar o seu mandato é cedo para discutir esta possibilidade. Os restantes 22% (ou seja, quase um em cada cinco inquiridos) não escolheu qualquer das hipóteses anteriores.

Os resultados do estudo - coordenado por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa (ISCTEIUL), de que fazem parte nomes como os de Marina Costa Lobo e Pedro Adão e Silva e que é liderada por Pedro Magalhães - indicam que, apesar de todas as polémicas que têm envolvido a CGD, os portugueses querem manter o banco na esfera pública. Sem surpresas, os indivíduos que se posicionam politicamente mais à esquerda tendem a rejeitar mais a ideia de privatização da CGD do que quem se posiciona à direita, indica a sondagem. Apesar de já ter sido abordada por várias vezes no passado, a privatização da Caixa, ou a abertura do seu capital a privados, acabaram sempre por não vingar. O banco está a reestruturar a sua operação em Portugal, fechou balcões e reduziu o número de trabalhadores, e no estrangeiro está a vender participações. O objetivo é cumprir um plano estratégico acordado com Bruxelas e Frankfurt. E a injeção de 4 mil milhões de euros na instituição, em 2017, foi a forma de o Governo manter o banco na esfera pública. A necessidade de uma injeção desta dimensão decorre de uma herança pesada, nomeadamente o incumprimento de créditos concedidos que levaram o banco público à contabilização de provisões e imparidades volumosas. O apuramento de responsabilidades na forma como a CGD concedeu financiamentos vai ser escrutinado pelos deputados no decurso de uma comissão parlamentar de inquérito. Com um objetivo claro: os deputados querem saber porque foi preciso injetar tantos milhões no banco público. Em 2018, contudo, a Caixa já conseguiu chorudos 496 milhões de euros de lucros, ou seja mais de 10 vezes o valor apurado no final de 2017. A devolução do dinheiro aos contribuintes vai demorar anos, mas este ano a Caixa prepara-se para distribuir 200 milhões de euros em dividendos ao Estado, o que não acontecia desde 2010.
Renacionalizar os CTT sem maioria
Outro dos temas analisados na sondagem ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC foi a renacionalização dos CTT. No período de ajuda externa, os CTT foram privatizados a 100%, eram o PSD e o CDS-PP governo. Os restantes partidos criticam há muito a decisão, argumentando que se foi mais longe do que se devia, já que a Troika nunca impôs uma privatização total. Entretanto, já este ano, foram votadas propostas do PCP, Bloco de Esquerda e PEV para tentar fazer regressar os CTT ao Estado. Estes projetos foram todos chumbados pelo PS, PSD e CDS, tendo o Governo explicado que, estando o ‘mal’ feito, reverter o processo era agora praticamente impossível e muito oneroso para os contribuintes.
E o que pensam os portugueses? O estudo revela que embora uma fatia significativa ache a renacionalização “boa ideia”, estão divididos sobre o tema.
Colocados perante a pergunta “Pensando na possibilidade de renacionalizar os CTT, ou seja, os CTT voltarem a ser uma empresa pública, com qual das seguintes frases mais concorda?”, a opinião mais frequente é a de que “Renacionalizar os CTT é boa ideia e devia avançar o mais depressa possível”. Contudo, fica pelos 43% dos inquiridos, ou seja não chega à barreira dos 50%. Adicionalmente, 19% acham que a renacionalização “é uma má ideia em quaisquer circunstâncias” e outros 18% acreditam que é cedo para colocar essa hipótese enquanto durar o contrato com os privados. Os restantes 21% (mais de um cada cinco) não escolheu qualquer uma das hipóteses anteriores. São as pessoas a partir dos 45 anos, em comparação com os mais jovens, que mais defendem a renacionalização, revela o estudo. Quanto à relação entre a simpatia partidária ou o posicionamento ideológico e a propensão para defender esta posição, revelou-se ténue. Mais importante é a relação com a instrução: quanto mais elevada a escolaridade, menor a propensão para defender a renacionalização dos CTT, indica a sondagem.
Também em análise esteve a evolução do serviço prestado pelos CTT. Desde que a empresa foi privatizada e, sobretudo, desde que começou a fechar estações próprias, o tema da qualidade dos serviços prestados nos postos dos CTT passou a estar frequentemente nas notícias e na agenda política. Nomeadamente fruto das críticas da Anacom, o regulador, e dos diferentes partidos políticos que, em maior ou menor escala, apontam falhas, ainda que nem todos concordem depois quanto à natureza - pública ou privada - do capital da empresa que presta o serviço postal universal em Portugal. Nos concelhos onde foram fechadas estações próprias dos CTT, o serviço passou a ser prestado por terceiros, seja juntas de freguesia, papelarias ou mesmo minimercados. Há quem defenda que o serviço piorou, há quem diga que até melhorou, mas o impacto maior - esse consensual - é emocional, já que o fecho de estações próprias é visto com mais um abandono do interior do país. Ora, perante a questão “Nos últimos quatro anos, acha que a qualidade dos serviços prestados pelos CTT melhorou muito, melhorou, ficou na mesma, piorou ou piorou muito?”, a resposta mais frequente, escolhida por quase metade dos inquiridos (45%) é de que “ficou na mesma”. Por sua vez, 32% consideram que piorou, enquanto 13% consideram que melhorou. Os restantes 9% (quase um em cada dez) não emitem opinião.
A propósito deste tema, o ICS e o ISCTE fizeram um estudo experimental. A metade dos inquiridos, selecionados de forma aleatória, colocou-se a questão sobre a evolução da qualidade dos serviços prestados pelos CTT precedida da frase “Desde 2014 que os CTT são uma empresa com capital inteiramente privado”. Já à outra metade dos inquiridos a questão foi apresentada sem qualquer preâmbulo. Objetivo? Perceber se a existência desse estímulo, ou seja, de ser expressamente manifestado que os CTT se tinham tornado numa empresa privada, teria influência na avaliação da qualidade dos serviços prestados. E a resposta que resulta da sondagem é não. Os resultados sugerem que não há diferença estatisticamente significativa na distribuição das respostas obtidas sob cada uma das formulações.
FICHA TÉCNICA
Este estudo foi coordenado por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa (ISCTEIUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo do estudo é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (7 grupos), Instrução (3 grupos), Ocupação (2 grupos), Região (7 Regiões GfK Metris) e Habitat/Dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de Região e Habitat, foram selecionados aleatoriamente 83 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI. A intenção de voto foi recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. O trabalho de campo decorreu entre os dias 9 e 21 de Fevereiro de 2019 e foi realizado por 45 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Foram contactados 2541 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo), tendo sido obtidas 801 entrevistas válidas (taxa de resposta de 32%). Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa dos cidadãos portugueses residentes no Continente com 18 ou mais anos, a partir dos dados da vaga mais recente do Inquérito Social Europeu. A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 801 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95% (Expresso)

Sem comentários: