quinta-feira, junho 06, 2019

Nota: um desabafo enquanto consulto resultados eleitorais

De facto, Ponta do Sol e Porto Moniz personificaram - estava eu a preencher quadros eleitorais para um estudo comparativo - o tremendo erro cometido nas Autárquicas de 2017 pelos social-democratas. Um erro político que teve custos elevados, que eu alargaria à Ribeira Brava, sem falar na estratégia de ausência - nunca antes ocorrida - adoptada em São Vicente, embora eu perceba. Enquanto no Porto Moniz e na Ponta do Sol (!) a oposição socialista acabou por beneficiar com isso (também porque também não houve a iniciativa dos escolhidos, apesar do erro processual que rodeou ambos, de perceberem que provavelmente não estariam eleitoralmente à altura dos desafios), na Ribeira Brava ganhou um homem que foi injustiçado e nunca devia ter sido perseguido na tentativa de afastamento apenas por motivações pessoais e ambições cruzadas que não vêm ao caso mas que não se podem repetir. O desfecho final foi avassalador. Em São Vicente ganhou também um político que nunca escondeu ser um social-democrata embora as divergências que o afastaram do PSD-M tenham tido muito a ver com disputas pessoais, manipulação, fofoqueira, intriga e guerras de protagonistas, numa dimensão local, mas que acabaram por influenciar escolhas erradas entre 2011 e 2013.
O PSD-Madeira não se pode comparar aos demais. Tem um legado, bom ou mau, tem um legado que é seu, tem um compromisso histórico com todo o nosso percurso autonómico, cometeu erros como todos, mas tomou também muitas decisões acertadas e fez muita coisa boa em prol da Madeira do seu Povo, liderando um processo de mudança que precisa continuar e ser consolidado.
A ousadia demasiada e arriscada teve custos que em 2011 ficaram à vista de todos, graças a uma crise bancária sem precedentes que ameaçou o sistema financeiro europeu e que em Portugal acabou por levar tudo e todos à sua frente. Foram os tempos do tal "buraco" e do PAEF. O PSD-Madeira tem responsabilidades acrescidas, não se pode confundir com os pequenos partidos de paróquia, não pode ficar refém de conversas tontas da política feitas para anjinhos e muito menos insistir em escolher pessoas sem perfil para a política, sem perfil para certos cargos e sobretudo que não dizem nada às pessoas nem as mobilizam ou estimulam porque carecem de dinâmica e de um discurso. Se esse erro for de novo cometido - embora ache que o reencontro do partido consigo próprio (mesmo que isso tenha custado o afastamento de meia dúzia de oportunistas e de uns tantos dispensáveis e execráveis "colas" que se juntaram à situação, em 2014, motivados sabe-se bem pelo quê) começou depois de novo descalabro eleitoral em 2017, quando tocaram nas autárquicas as sirenes do alarme - o PSD-M vai pagar caro pela ousadia desajustada e pela incompetência de não perceber o que está em cima da mesa e de desvalorizar o que não pode ser escamoteado. Há canais que ou existem ou não existem, os partidos não constroem nada. A ideia de que os partidos são uma espécie de "paridores" de políticos a martelo, é uma perfeita idiotice. Essa confiança é construída pela seriedade das pessoas e pela sua postura social. Nunca por máquinas de comunicação que não passam de propaganda e que tanto vendem um sabonete para limpar trampa, como um político para ser eleito.

Tal como no passado recente muitas dessas estruturas de comunicação endeusaram e ganharam milhões a reboque de banqueiros ambiciosos, apresentados como "salvadores" de tudo o que se mexia neste país, mas que na realidade foram um monte de merda de corrupção, gatunagem, incompetência e de falta de idoneidade para o cargo que exerciam.
Um conselho: enterrem as europeias, fechem a porta de eleições que não são referência de coisa nenhuma para ninguém e que ainda por cima costumam ser na Madeira atípicas. E toca a traçar um plano de acção, política e governativa, a definir um caminho, a traçar objectivos, a escolher as bandeiras essenciais da proposta a apresentar às pessoas, a continuar calmamente a mostrar obra e competência, que desmistifiquem execráveis ouvidores do reino oportunistas que acabam por ser apologistas de idiotices alimentadas pelo desespero e pela frustração. Toca a definir as mensagem política essencial e as balizas de um discurso que deve ser repetidamente enfatizado.
Peço, ou sugiro, que os descontentes que existem no próprio PSD-M, os ostracizados que precisam ser chamados, os afastados em 2015 apenas porque foram catalogados de jardinistas - como se isso fosse um crime para um partido que não pode ser dissociado nunca de Alberto João Jardim - e que naturalmente, todos eles, diria alguns deles, ainda hoje se sentem injustiçados, façam uma pausa e se empenhem neste caminho até 22 de Setembro, tendo como pano de fundo essa atitude exemplar do povo madeirense, tomada nas eleições de 2007. Quando foi preciso defender a Madeira e dar a resposta adequada às patifarias do costume das ovelhas ranhosas do lado de lá, e dos seus serviçais cúmplices na Região, que bem nos quiseram entalar com a lei de finanças regionais e outras patifarias bandalhas. Está tudo documentado.
O que o PSD-M precisa não é de reuniões com estruturas dirigentes de base para cumprir calendário ou de um qualquer ritual de apelo ao voto que se repete sempre que há eleições à vista. Claro que há um trabalho de preparação no terreno que tem que ser feito de forma competente, empenhada e atenta, sem pressões. O que o PSD-M precisa é de pacificar essas pontas soltas, diria algumas mas importantes pontas soltas, resolver situações ainda resultantes de erros cometidos em 2017, nas autárquicas, que deixaram marcas, trazendo todos de volta a casa, envolvendo-os no que precisamos de continuar a fazer calmamente, sem caganças, sem dependências doentias de redes sociais, sem show-off mediático que apenas serve para promover vaidades pessoais e levá-las ao extremo de reclamarem, mesmo que timidamente porque seria descaramento demasiado, méritos que não têm. Talvez porque nem tempo têm para isso. Vamos a isso! (LFM)

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