sexta-feira, outubro 18, 2019

Futura liderança do CDS pode passar pela Madeira?

Há sectores do CDS em Lisboa que temem pela sobrevivência do próprio partido, não só devido ao aparecimento à sua direita de novos partidos - casos do Chega e Iniciativa Liberal ou mesmo da Aliança - que podem retirar (já retiraram) votos que sempre foram tradicionalmente reivindicados pelo CDS, mas também porque os resultados eleitorais mais recentes têm confirmado o aumento do fosso eleitoral existente entre o partido e o PSD.
Segundo me esclareceu, uma fonte amiga ligada ao CDS em Lisboa, e muito bem informada - acreditem se quiserem para mim é indiferente isso, fica o valor da "deixa"... - a estratégia de Cristas foi errada, sendo a ainda líder do CDS acusada de ter confundido o que se passou numa corrida eleitoral autárquica - em Lisboa - numa determinada conjuntura social e política - o pós-troika e tudo o que de mais tenebroso ela representou (e representa) e os efeitos da governação da geringonça depois da queda da coligação da troika, PSD-CDS,repito, cujo legado negativo ainda hoje subsiste e tem penalizado fortemente os dois partidos, apesar de terem lideranças novas e ideias diferentes - com o combate eleitoral num cenário politico e parlamentar que foi sempre entendido com dificuldade porque nunca foi pacificamente aceite por PSD e CDS que parecem ter adormecido à sombra da tese da "usurpação indevida do poder, o que não tem cabimento nem os eleitores acolheram.
A verdade é que essa lógica condicionou a atitude dos dois partidos.
Nesta conformidade, há quem considere que o CDS nacional precisa de um período de transição até às autárquicas, período esse que será pouco exigente - o CDS não é um partido com grandes resultados autárquicos nos últimos anos - mas que dará tempo para que alguns notáveis se posicionem, repensem a sua posição ante o CDS e impeçam que o partido caia nas mãos de "segundas ou terceiras linhas" - a promoção do aparelhismo - sem qualquer credibilidade junto das pessoas e sem currículo digno de destaque algum.
É neste quadro que surge o CDS-Madeira que apesar de ter sido o grande derrotado da noite eleitoral regional de 22 de Setembro, e de ter perdido 4 dos 7 deputados que antes tinha e perdido mais de 9.500 votos, conseguiu contudo, graças ao demérito do "derrotado" PSD-M (porque há vitórias que são teóricas, pois na realidade não são coisa nenhuma dada a submissão e total dependência do PSD-M dos caprichos e ambições alheias) suster uma hecatombe que na noite eleitoral regional se adivinhava no quartel general da direita. Onde chegou a ser pensado e preparado um cenário radicalizado com demissões e tudo, quando o 3º mandato estava longe de ser garantido. Foi graças a uma estratégia de pressão, de chantagem, de ameaça, de negócio político autêntico - que vai continuar em áreas mais sensíveis como a saúde, como veremos a seu tempo, quando começarem, a ser conhecidos os nomes - que o CDS-M, e pragmaticamente é isso que copta, é a estrutura que actualmente detém pessoas com maiores responsabilidades públicas. Ou seja, não há no CDS nacional ninguém que se compare, em termos de importância política e dimensão pública ao cargo que José Manuel Rodrigues - e não vamos retomar o assunto - hábil e persistentemente conseguiu para si.
A ameaça dos Açores
Com um CDS nacional, completamente em cacos, sem que os notáveis queiram pegar num partido nesse estado, onde apenas segundas e terceiras linhas, sem peso político e social digno de realce se mostram ávidas de poder, há quem em Lisboa sustente que o CDS-Madeira deveria assumir a liderança nacional do CDS, através de um seu dirigente, por um período de pelo menos 2 anos.
Acresce que o facto de se realizarem em 2020 eleições regionais nos Açores - a única região onde há uma maioria absoluta, por sinal socialista (eles, socialistas, que tanto mal disseram e tanto contestaram as maiorias absolutas nacionais e na Madeira...) - nas quais o CDS poderá ter que lutar pela sua sobrevivência, faz com que as ilhas ocupem pelo menos até final de 2020 um papel de destaque na política nacional. Por um lado saber se a coligação na Madeira se aguenta e vai resistir às inevitáveis tempestades, por outro saber se um CDS-Açores envolvido em profundas divergências internas e polémicas públicas, vai aguentar-se.
Artur Lima parece estar de saída - mas a decisão final não foi ainda tomada - e uma das deputadas do CDS-Açores (Graça Silveira) por ter apoiado um opositor de Lima (Luís Silveira, Vice-Presidente do CDS-A e Presidente da Câmara de Velas), foi afastada da actividade parlamentar normal, impedida de usar da palavra, afastada de funções internas de deputada, e acabou por solicitar a demissão do partido e requereu o estatuto de deputada independente. Curioso... O décimo Congresso Regional do CDS/Açores decorrerá a 7 e 8 de Dezembro na ilha Terceira.
Segundo a minha fonte o Conselho Nacional do CDS, ontem em Lisboa, foi "desastroso porque não deixou nenhuma porta aberta, nem permitiu ver qualquer solução". A hipótese do envolvimento do CDS-M - nem que "obrigado a isso" - não foi claramente posta em cima da mesa mas circulou nos bastidores da reunião., O problema é saber quem, no CDS-M poderia dar corpo a esse projecto já que se José Manuel Rodrigues o fizesse - o nome mais falado e com currículo mais adequado até pelos cargos desempenhados no CDS nacional - dificilmente poderia continuar na Madeira e na liderança da Assembleia Legislativa. Diz a minha fonte que faltará a JMR marcar presença numa reunião centrista nacional - Conselho Nacional - e ter um discurso arrebatador que abra porta a essa solução...
Constou-me, nessa conversa que mantive, que a "ala portista" poderia apoiar esta solução para ganhar tempo, já que dificilmente apoiará qualquer cenário de regresso de Monteiro à liderança do CDS.
Estamos perante um assunto que promete, que segundo a minha fonte, repito muito bem informada, pode depender de factores novos que entretanto possam surgir - por exemplo, há uma corrente que defende o regresso e urgente refiliação de Manuel Monteiro (Cristas parece resistir, provavelmente pelas suas ligações a Portas, que foi o alvo do conflito interno com Monteiro) e as alterações estatutárias que permitissem a sua candidatura à liderança, mas esse cenário está longe de ser consensual - porque ninguém sabe se JMR enceraria o desafio de uma liderança transitória do CDS nacional, por um prazo de dois anos, até ao regresso de Monteiro (eventual regresso), perdendo a liderança da Assembleia Legislativa da Madeira pela qual tanto lutou.
O que "está em cima da Madeira é recolocar o CDS ideologicamente no seu verdadeiro lugar, como partido de direita, democrático mas de direita, em vez de andar a querer ocupar espaços à esquerda que pertencem a outros partidos e estão tradicionalmente preenchidos", disse-me peremptoriamente a minha fonte centrista em Lisboa (LFM)

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