Este Programa de Governo responde com
clareza aos estímulos da economia azul, enquanto afirma e reforça a posição da
Região Autónoma da Madeira (RAM), tirando partido da sua centralidade
atlântica. Os espaços marítimos – o Mar Territorial, a
Zona Económica Exclusiva (ZEE) e a Plataforma Continental estendida no âmbito
da proposta apresentada pelo Governo Português às Nações Unidas – constituem um
dos primários ativos para o futuro progresso da RAM. Assim, também pelo enfoque colocado pela
Comissão Europeia no ordenamento do espaço marítimo e pelo esforço em
investimento estratégico do Governo da República, torna-se fundamental
assegurar uma Secretaria do Governo Regional responsável pela coordenação da Política
Regional do Mar.
Mar
O Governo Regional, nesta legislatura,
aposta claramente nas atividades económicas tradicionalmente ligadas ao Mar,
mas igualmente na procura de novas áreas de excelência e de criação de
oportunidades de negócio que levem à criação de emprego qualificado,
substanciado no conhecimento, na inovação e na conservação do meio marinho como
motores do desenvolvimento económico. Esta política, eminentemente
intersectorial, incidirá em diversos domínios - conhecimento, proteção e
valorização do mar e dos recursos naturais marinhos e costeiros, e nos
diferentes níveis de intervenção pública - planeamento estratégico, cooperação
institucional, regulamentação, ordenamento, gestão, licenciamento e
fiscalização.As prioridades de intervenção e de
investimento, para além de procurar promover o aumento dos resultados
económicos das principais cadeias de valor setoriais da Economia do Mar, deverão
estimular a interligação entre setores, fomentada e orientada por políticas
públicas, a longo prazo geradoras de uma base de acumulação suscetível de
integrar a organização de um Cluster do Mar na Região.
Orientações estratégicas
·
Promover um melhor ordenamento do mar.
·
Salvaguardar o acesso público ao mar,
conservando, reabilitando e valorizando os acessos já existentes e criando as
condições para o aparecimento de outros.
·
Ordenar, regular e promover um usufruto
sustentável e conciliador de diferentes usos, atividades e interesses.
·
Monitorizar estudos e investigação do mar,
através da troca de conhecimentos e estabelecimento de parecerias científicas
entre as entidades públicas e privadas.
·
Proteger o capital natural e valorizar os
serviços dos ecossistemas marinhos.
·
Garantir uma proteção efetiva dos serviços
nos ecossistemas marinhos é essencial para a sua valorização no âmbito da
economia azul.
·
Aproveitar os recursos genéticos marinhos.
·
Desenvolver projeto conducente à instalação
da Escola de Marítimos (Educação e Formação para o mar).
·
Reforçar a promoção de estudos de segurança
e de impacto ambiental rigorosos que sustentem a extração de inertes no mar.
·
Defender intransigentemente o interesse
público nas parcerias, licenças e concessões a empreender.
·
Implementar a Diretiva Quadro da Estratégia
Marinha.
Pescas
Um dos mais principais recursos marítimos é
o seu pescado, importando valorizar esta atividade económica enquanto projeto
empresarial competitivo, dadas as nossas tradições neste setor. De facto, o
setor da pesca regional sempre teve uma importância e peso social e local
superior aos indicadores económicos relativos a esta atividade, sendo
significativo o contributo para a fixação das populações em determinadas zonas
ribeirinhas onde a pesca é uma atividade com significado. Também as atividades
a montante e a jusante do setor (construção e reparação naval, fabrico de artes
e apetrechos de pesca, indústria da transformação de produtos da pesca, …) contribuem
de forma especial para que a fileira das pescas (e da aquicultura) represente
um importante pilar socioeconómico regional. A Região tem desenvolvido um
esforço de investimento na recuperação e requalificação de infraestruturas
terrestres (lotas e entrepostos frigoríficos, …) que movimentam quantidades significativas
de pescado desembarcado e transacionado e no apoio a outros intervenientes da fileira
das pescas (indústria e organizações representativas do setor, …). Não
obstante, ainda existe um conjunto de constrangimentos estruturais e
específicos que afetam a fileira das pescas que impõem uma atenção particular
do Governo Regional, nesta legislatura.
Orientações estratégicas
· Reforçar a I&D no sector em colaboração
com investigadores públicos/privados (por exemplo área da biotecnologia)
potenciando o conhecimento.
· Promover a preservação do ecossistema
marinho, garantindo a sustentabilidade dos recursos marinhos, particularmente
aqueles que não estão sujeitos a sistemas de Regulamentação pela União Europeia
ou em que estas possam ser complementadas, promovendo a sustentabilidade
biológica dos recursos vivos explorados pela pesca comercial.
· Proteger os recursos piscícolas em torno
das regiões Ultraperiféricas garantindo a preservação da estrutura social,
económica e cultural das comunidades piscatórias que continuem a retirar do mar
o seu sustento.
Diligenciar para o aumento do emprego, a
coesão territorial e o crescimento económico da atividade da pesca e sua
representatividade no PIB regional.
· Apoiar a valorização da atividade, incrementando
e diversificando a formação dos pescadores e demais intervenientes na fileira
das pescas. Dinamização da valorização do capital humano das pescas em sinergia
com organizações privadas que disponibilizem formação neste sector.
·
Estabelecer planos de gestão/recuperação de
espécies em risco, diversificar os recursos explorados e fomentar a criação de
nichos de mercado para pescado não convencional de maior valor gastronómico e
económico.
·
Implementar os regulamentos comunitários
relativos à monitorização da qualidade alimentar dos produtos da pesca, com particular
atenção às espécies que, pelas suas caraterísticas bio ecológicas, são mais
suscetíveis de contaminação.
·
Providenciar o apoio técnico-científico à
presença dos agentes representativos do sector em organizações onde se torna
necessária a afirmação das caraterísticas e especificidades da pesca regional,
no contexto das políticas de pesca europeias, como é, por exemplo, o caso dos
Conselhos Consultivos Regionais de pescas da União Europeia.
·
Apostar na formação, valorização e
capacitação do capital humano do sector, visando melhorar a atratividade da
pesca como saída profissional para as novas gerações, em paralelo aos esforços
efetuados no sentido da conservação dos recursos, desenvolvimento e valorização
económica de toda a fileira da pesca.
·
Promover a pesca profissional como
complementar às atividades turísticas, como possibilidade para alguns segmentos
de frota, cuja viabilidade poderá ser estudada e desenvolvida a partir de
experiências piloto, ou seja, a pesca turística poderá ser um complemento ou
alternativa para a diminuição de rendimentos dos pescadores.
·
Incentivar a pesca desportiva, alavancar a
expansão e aproveitamento deste mercado e contribuir para a promoção do
crescimento económico, da inclusão social e da criação de empregos no sector.
·
Implementar um regime de inspeção e
controlo eficaz.
·
Salvaguardar que a
legislação/regulamentação aplicável seja adequada às nossas especificidades,
tendo em conta a natureza do mar, as espécies, as tradições e a identidade
cultural.
·
Estimular e apoiar o setor da indústria
regional de transformação de pescado. O aumento do tecido empresarial no setor
das pescas e aquicultura, para além de benefício social (criação de empregos) e
económico para a Região, deverá ser de molde a reverter também para o produtor,
valorizando o pescado, sobretudo o de maior qualidade, e, consequentemente, a
atividade da pesca. Utilização eficaz dos apoios comunitários, para compensação
de custos acrescidos. Criar circuitos e condições para a exportação.
·
Alinhar o investimento a efetuar na frota
com as prioridades definidas na Política Comum de Pescas, devendo o mesmo
abranger o incremento da polivalência, autonomia, segurança, melhoria das
condições de trabalho a bordo e por fim a conservação da qualidade do pescado
capturado.
·
Promover a substituição da frota pesqueira,
envelhecida e obsoleta, com particular ênfase para a que se dedica à pesca do
peixe-espada-preto, recorrendo para o efeito aos fundos comunitários.
·
Desenvolver novas estratégias de
valorização no mercado, a par da melhoria qualidade do pescado, através da
certificação de pescarias, nas marcas de qualidade ou de compromisso com o ambiente, nos
certificados de capturas que atestam que as mesmas foram efetuadas com respeito
pela estabilidade dos stocks e da informação detalhada que permita assegurar a
rastreabilidade dos produtos da pesca expostos para venda.
·
Aferir da possibilidade de acrescentar
valor ao pescado capturado na Região, reforçando a imagem de qualidade
percecionada pelos consumidores internos e externos, através de criação de
marcas e eco rótulos reconhecidos internacionalmente (como por exemplo a
certificação de pescarias, a certificação oficial de produtos da pesca pela UE,
a atribuição de identificação geográfica protegida e denominação de origem
protegida ao pescado mais emblemático da pesca madeirense).
·
Estudar as possibilidades de incremento do
aproveitamento das rejeições da frota pesqueira no uso de rações.
Aquicultura
A nível mundial tem-se registado um aumento
sustentado na produção de produtos da pesca e da aquicultura e a uma
substituição dos produtos da pesca (captura) por produtos da aquicultura, com
maior intensidade a partir dos anos 90. A Madeira não foi alheia a esta
transformação e tem vindo a apresentar um crescimento do setor aquícola, pela
necessidade de colmatar o défice de oferta de peixe no mercado regional e como
oportunidade de criar novas formas de negócio com impacte na redução da
importação de peixe, crescimento esse potenciado pelos apoios ao investimento e
pelo apoio técnico e científico das
instituições de investigação regionais.
Orientações estratégicas
·
Estudar a criação de uma plataforma comum
para gestão de informação de estabelecimentos de aquicultura.
·
Apoiar a introdução de novas espécies, com
os devidos estudos de suporte.
·
Promover o consumo de espécies provenientes
da aquicultura produzidas na Região.
·
Verificar a certificação de origem de valor
acrescentado no mercado.
·
Fomentar tecnologias e equipamentos
inovadores e a utilização de energias renováveis.
·
Promover a diversidade de produção através
da investigação e inovação protagonizada em centros experimentais (por exemplo
da Calheta) em colaboração com a investigação privada, entre outros:
·
- Incrementar a oferta de alevins na
quantidade, qualidade e diversidade necessária para abastecer as empresas
privadas do sector e diminuir os custos de produção da aquicultura na Região.
·
- Incentivar os modos de produção biológica
em aquicultura, com benefícios ambientais reconhecidos.
·
- Estudar e implementar a viabilidade de
repovoamento costeiro de espécies intensivamente exploradas, sobretudo na área
costeira, através da libertação de larvas e alevins.
Infraestruturas
A operacionalidade das infraestruturas é
fulcral, para facilitar as operações de desembarque e de embarque do pescado,
pelo que deverá proporcionar-se melhores condições de trabalho (designadamente
na recolha de dados, controlo, inspeção na receção do pescado, controlo sanitário,
segurança alimentar e para a qualidade e valorização dos produtos da pesca), agilizando
todos os procedimentos administrativos e financeiros para o efeito,
considerando que algumas das principais pescarias, são migratórias, seletivas e
sazonais. Acresce que a definição da permanência do
principal porto de pesca da Região no Funchal é um elemento preponderante para
a gestão do sector dotando de meios de operacionalidade de excelência. Assim, deve
potenciar-se a utilização dos meios já existentes e o aproveitamento eficaz dos
meios financeiros disponibilizados nos vários programas comunitários neste
domínio de intervenção.
Orientações estratégicas
·
Concluir a empreitada da nova lota/laboratório
do Funchal e edifícios conexos, com uma visão focada na nova tipologia
envolvente e com presença turística.
·
Elaborar o projeto para o entreposto frigorífico
do Funchal.
·
Concluir a remodelação do varadouro do Paul
do Mar.
·
Concretizar a reabilitação da lota do
Caniçal.
Recifes artificiais
A Região tem vindo a desenvolver, desde a
década de 80 do século XX, experiências de utilização de estruturas afundadas
com o intuito de contribuir para o repovoamento pesqueiro de áreas costeiras degradadas
pela pesca ou o desenvolvimento de outras atividades com impacto nos ecossistemas
marinhos. O impacto deste tipo de iniciativas registadas em várias partes do
mundo, tem sido muito positivo pelo que, na presente legislatura será dada
continuidade a esta política, também com o objetivo do repovoamento pesqueiro.
Orientações estratégicas
·
Criar polos de atração e dinamização da
economia do mar ligada à gestão e à conservação da biodiversidade, nomeadamente
a instalação de novos spots de mergulho através da criação de recifes
artificiais ou outros circuitos subaquáticos.
·
Otimizar a relação custo benefício através
da inovação no tipo de estruturas utilizadas, promovendo a avaliação rigorosa
dos locais onde são instaladas e interações com outras atividades e estruturas
marítimas.
·
Proceder à monitorização rigorosa dos
impactos provocados pela sua instalação no meio marinho.
·
Estabelecer sinergias com outras
atividades, como o mergulho subaquático, que devem também utilizar os benefícios
e serviços decorrentes da sua instalação.
Programa Operacional
Atualmente está ainda em vigência o
PROGRAMA OPERACIONAL (PO) MAR 14-20, o qual é apoiado pelo Fundo Europeu dos
Assuntos Marítimos e da Pesca (FEAMP), que integra, todos os instrumentos
financeiros de apoio ao sector das pescas e aquicultura existentes, assim como
a política marítima integrada (PMI) na União Europeia (UE), ao contrário do que
acontecia até aqui. Estão também em curso as negociações das propostas
legislativas para o Quadro Financeiro Plurianual da União Europeia para
2021-2027 e para a reforma das várias políticas setoriais europeias para esse
mesmo período. Neste domínio, o compromisso do Governo Regional é de fazer
sempre valer as suas posições de defesa dos interesses regionais no sector das
pescas.
Orientações estratégicas
- Promover a execução do PROGRAMA OPERACIONAL (PO) MAR 14-20, assegurando a maximização do aproveitamento dos fundos comunitários disponíveis, sem descurar a legalidade e a regularidade da despesa.
- Diligenciar por uma efetiva participação e defesa dos interesses da Região no desenvolvimento dos trabalhos preparatórios dos instrumentos de programação do novo ciclo 2021-2027.
- Assegurar os trabalhos de preparação, a elaboração e operacionalização do próximo Programa Operacional no âmbito do ciclo de programação 2021-2027, em concertação com as autoridades regionais, nacionais e europeias competentes.
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