quarta-feira, junho 11, 2014

Opinião: "O novo magro"

"Já abordei o assunto noutros territórios mas penso que merece um aprofundamento sério: Paulo Rangel é um novo magro e isso terá prejudicado a sua candidatura europeia. A sociedade não perdoa o exibicionismo do novo magro. Hoje, pior do que ser um novo rico é ser um novo magro.
Manuel Alegre, rapaz descomplexadamente encorpado, tocou no ponto ao fazer referência, de modo depreciativo, à nova condição do candidato da Aliança Portugal. Também ele não desculpou o atrevimento dietético de Rangel.
Quem exibe sinais exteriores de magreza está tramado. É alvo de comentários pelas costas. E de gente que, ganhando coragem, manda à cara: “Então, emagreceste muito…” Há quem pense logo em doença, como se um cidadão não pudesse, de um momento para o outro, fartar-se de ser gordo e mandar-se a uma dieta poderosa e inequívoca.
Escrevo, leitor, por experiência própria. Depois de ter vivido uma adolescência esquelética, tornei-me gordo à conta de um descontrolo gastronómico. E desde há uns anos resolvi vir emagrecendo, como quem regressa, como um Ulisses liberto de gorduras, à leve felicidade do início. Não sabem o que é que tenho sofrido para aí. Sinto-me discriminado. Em cada instante ouço uma boca, uma indignação, um cochicho.
As pessoas não querem que eu fique magro. Habituaram-se ao meu estado gordalhufo e esperam que por aí estacione, rebolando-me pelas esquinas. Novos magros de todo o mundo, estamos juntos nesta luta" (texto de Nuno Costa Santos, Sábado, com a devida vénia)