O CDS de José
Manuel Rodrigues tem uma estranha capacidade de transformar o barro em ouro.
Basta tocar, julgam eles, e o povo na sua "ignorância" (contam eles
com isso...) deixa-se ir a reboque dessa onde propagandística que transforma
esta campanha eleitoral num vale-tudo.
O Hospital foi
uma iniciativa do anterior governo regional, chegou a haver projeto elaborado,
foram expropriados terrenos, mas depois, ao que consta devido à situação
financeira e ao facto da Madeira não conseguir financiamento comunitário
(lembram-se de quem era governo em Lisboa?!), essa obra foi abandonada e
substituída por obras no Hospital da Cruz de Carvalho, na expectativa de
melhorar a capacidade de resposta daquela unidade aos utentes. Pessoalmente
nunca deixei de achar que um novo Hospital é prioritário. Aliás nem o governo
regional em funções pode mudar de discurso porque foi ele a despoletar o
processo e ter as iniciativas que atrás referi (projeto, expropriações,
tentativa de obtenção de apoios financeiros, etc). Não podemos escamotear a
verdade e mudar de opinião só porque não se conseguiu, num dado momento e por
casa de circunstâncias então existentes, o necessário financiamento. Nada
disso. O Hospital é importante hoje, como era importante no passado quando foi
despoletado o processo em causa. E acredito que essa será uma prioridade de
qualquer governação regional.
Com a evolução
registada na Madeira dos nossos dias, com os passos dados pela autonomia
política regional em termos de desenvolvimento regional, com tudo o que os
madeirenses conquistaram, a Madeira não pode achar que é normal ter duas
estruturas hospitalares (Marmeleiros e Cruz de Carvalho) com dezenas de anos de
existência, que não escondem o desgaste dos anos e deixar de pugnar pela aposta
numa nova estrutura, porventura sem a dimensão daquela que foi inicialmente
projetada mas pensada de acordo com a nossa realidade regional.
Passados dois
ou três anos é ver o CDS agarrado ao novo Hospital do Funchal, com cartazes e
tudo, como se fosse uma das suas bandeiras, com a agravante de haver à volta
deste tema, intervenções públicas - que não forçosamente de José Manuel
Rodrigues - que indiciam a existência de uma espécie de ajuste de contas que
tem muito a ver, diria tudo a ver, com interesses sectoriais e questões
corporativistas de classe e povo ou nada a ver com a realidade da saúde
regional. Quando política de questões pessoais se confundem, deixando se se
perceber onde fica afinal a tal linha vermelha que delimita uma e outra coisa,
tudo perde sentido e entramos no domínio da libertinagem propagandística.
Dizer hoje que
há dinheiro da União Europeia para financiar o novo hospital e uma mentira tão
monumental quão patética como sustentar que o Barreirense ou o Carvalheiro
estarão numa das próximas finais da Liga dos Campeões. A verdade é que a
política é isto mesmo, sobretudo no caso de alguns partidos desesperados, para
os quais tudo serve.
Depois - e
confesso a minha estupefação – seguiram-se as romarias do CDS e do PS aos
Açores e a Cabo Verde. Inicialmente pensei que estaríamos ante dois membros do
gabinete do mais viajadeiro dos ministros do governo de Lisboa (Portas) ou que
as eleições de 29 de Março seriam nos Açores ou em Cabo Verde. Afinal era tudo
propaganda eleitoralista, expressa em textos e fotografias enviadas (e bem,
nada a dizer quanto a isso) pelas estruturas de comunicação dos dois dirigentes
partidários em causa, que acreditam que conseguem votos e ganham a confiança
dos cidadãos deixando-se fotografar em audiências de circunstâncias que nada
resolvem e nada adiantam à Madeira e aos madeirenses. Partidos que
infantilmente acham que quanto mais vezes aparecerem em blogues ou noutras
redes sociais, melhor. Bom proveito lhes faça.
Bem vistas as
coisas, o que é que os Açores, as Canárias ou Cabo Verde, com o devido respeito
pelas respetivas estruturas governativas, têm a ver com a Madeira e com as
eleições de 29 de Março? Querem vender-nos gato por lebre? Será que não estamos
perante uma expressão de vaidades pessoais destinadas a dar ao eleitorado
madeirense a ideia de que certos políticos da oposição, com anos de experiência
acumulada quanto a derrotas (e porventura vão a caminho de outra como a seu
tempo constataremos) subitamente viraram uma espécie de "diplomatas"
de pacotilha?
Finalmente,
qual cereja no cimo do bolo, o Centro Internacional de Negócios da Madeira.
Outra vez. Sabemos, e é bom que os madeirenses não se esqueçam de quem
pretendeu entalar o CINM, penalizando a Madeira com base em motivações pessoais
e político-partidárias. Bastou que depois de alguns anos de hesitações e de
avanços e recuos, tivesse sido anunciada a aprovação do denominado IV Regime do
Centro Internacional de Negócios da Madeira, para que algumas personagens da
oposição se "digladiassem" publicamente reclamando méritos que não
tem e mais parecendo lobos esfomeados à volta de um bife.
Hoje começa a
campanha eleitoral, cumprindo-se assim uma formalidade. No caso dos partidos
mais pequenos, com uma atividade de campanha diminuta, os tempos de antena
transformam-se no instrumento privilegiado para estabelecer comunicação com os
eleitores. Pessoalmente continuo a entender que, passados 40 anos depois da
realização das primeiras eleições (1975) depois do 25 de Abril, poucos serão os
eleitores que se deixam influenciar pelos tempos de antena.
Acho que neste
momento a esmagadora maioria dos eleitores madeirenses já sabe o que vai fazer,
se se absterá, se votará e, fazendo-o, qual o partido credor da sua escolha. Há
uma pequena quantidade de eleitores, os indecisos, que porventura podem não ter
decidido o seu voto, não por não estarem esclarecidos, mas porque integrando o
chamado "eleitorado flutuante" - que vota sem ter compromissos
concretos com qualquer partido - muitas vezes faz a sua opção apenas quando tem
o boletim de voto na mão e precisa de fazer escolhas. Já uma vez aqui disse que
nas últimas eleições autárquicas no Funchal, muitos desses eleitores,
contrariando todas as sondagens divulgadas até então, decidiram no próprio dia
em que votaram, dando origem à maior surpresa eleitoral de então. Portanto, com
campanha ou sem campanha, com ou sem tempos de antena, mais de 90% dos
eleitores madeirenses já sabem neste momento como votarão ou se se absterão.
Não tenha ilusões quanto a isso.
Retomando o
tema do meu último texto, lembro que um deputado do PS apontou o dedo acusador
ao PSD, escondendo - pudera! – não só episódios pessoais que não consegue
colocar à margem sempre que aborda deste tema - que foi um secretário de estado
dos tempos de Sócrates a dar cabo do CINM, mais não fazendo porque o país
acabou falido e os socialistas foram escorraçados do poder pelo voto do povo.
Neste frenesim tinha que estar presente, outra vez, José Manuel Rodrigues e o
CDS que procura nestas eleições regionais, ao contrário do que diz, a
sobrevivência política pessoal e a eleição de pelo menos 5 deputados.
E como se meteu
JMR ao barulho? Agachando-se - imagine-se tamanha dependência doentia e
submissa - perante Portas e Núncio, transformando-os como uma espécie de
"salvadores" do CINM. JMR esqueceu-se, compreensivelmente, que foi
este militante do CDS e secretário de estado dos impostos - que trabalhou 3
anos na Madeira numa empresa ligada ao CINM - quem, depois de ter chegado ao governo
de coligação Passos-CDS, "engavetou" propositadamente o processo do
CINM, chegando a colocar em causa qualquer sucesso negocial. Portas, na ótica
de JMR, no intervalo de umas tantas viagens para vender chouriços, vinhos e
sapatos, a troco de uns "vistos gold" que permitiram que o país fosse
retalhado e vendido ao desbarato, andou a tratar do CINM em Bruxelas.
Mesmo que não
tenha sido, e não foi, JMR acha que foi. Por isso, toca a envolver dois
dirigentes do CDS nacional no pódio dos festeiros deste novo regime para o
CINM. Vamos a ver se durante a campanha eleitoral, quando se falar do roubo das
pensões e das reformas, da criminosa carga fiscal que sufoca e empresas e
famílias, da burocracia imposta aos pequenos produtores na agricultura, das
penhoras de casas e de outros bens nos impostos, do desemprego dos jovens
(agravado este mês) e das habilidades e aldrabices na manipulação das taxas de
desemprego para que sejam projetados valores falseados por via de expedientes
de validade efémera, no fundo matérias ligadas aos ministros do CDS, JMR também
vai colocar os seus correligionários na primeira linha da campanha eleitoral ou
se os outros partidos é que terão que lembrar quais os ministros que tutelam os
sectores mais polémicos da governação nacional. Para JMR, Portas e Núncio, “por
acaso ambos dirigentes do CDS/PP” nacional foram quem conseguiu "esta
vitória”. Sintomático.
Mas não uma
novidade. Já quando foi reduzido em 40% o total das verbas transferidas para os
partidos políticos, graças ao voto do PSD, bastaram escassos dois dias depois
da aprovação no parlamento regional dessa medida para que a cidade fosse
inundada por cartazes do CDS reclamando a vitória pela poupança de 2 milhões de
euros anuais. É sabido que antes de 2011, quando tinha apenas 2 deputados e
andava a contar tostões, nunca o CDS abordou o assunto que, reconhecidamente,
foi repetidamente uma das bandeiras de alguns partidos da esquerda regional.
(LFM/JM)