quinta-feira, abril 26, 2018

Aeroporto do Funchal: a política não manda nos ventos nem tem o direito de interferir em questões técnicas

Tenho seguido com justificada (e espero que compreensível) preocupação e interesse, todo este debate, que me parece demasiado acelerado e intoleravelmente politizado (quando é uma questão essencialmente técnica) em torno das matérias e polémicas relacionadas com a (in) operacionalidade do aeroporto do Funchal e com as ocorrências que, com alguma regularidade recente, têm acontecido nos últimos tempos, condicionando fortemente a utilização da pista madeirense com desejada tranquilidade e normalidade.
Sei - e digo-o já antes que me atirem isso à cara - que uma terra de turismo como a Madeira, que depende de factores exógenos que não controla, alguns deles de índole concorrencial bastante agressivos e dispendiosos (promoção) não pode continuar por muito mais tempo sujeita a uma repetição infindável de situações de inoperacionalidade, devido ao impacto negativo que daí resulta.
Também conheço o outro lado da moeda, o de saber quais os riscos que corremos se abrirmos demasiado as restrições operacionais, transformando perigosamente as aterragens no Funchal em eventuais pesadelos agrestes (para os passageiros) que inevitavelmente afastarão os turistas da possibilidade de uma segunda visita à RAM.
Com os aviões ninguém brinca e muitos menos os políticos que, tal como eu, não percebem patavina do assunto. Por muito grande que seja a pressão, a cautela e o pragmatismo devem prevalecer acima de tudo. Nesta ordem de ideias lembro que baste um qualquer pequeno problema no aeroporto da Madeira e este destino vai pela fosse abaixo, em benefício da concorrência.
Dizem alguns especialistas - outros são muito cautelosos, a começar pelos pilotos em actividade - que podemos levantar um pouco mais as actuais restrições operacionais no aeroporto do Funchal. Não entro nessa discussão por incompetência e desconhecimento assumidos. O que se exije é que, antes de qualquer decisão, nos provem tecnicamente que, scom esas eventuais mudanças, não teremos o aeroporto do Funchal transformado num pesadelo que aos poucos vai afastar as pessoas da Região - as redes sociais são cada vez mais um coveiro de muita coisa devido ao impacto da publicidade negativa que é veiculada através delas.
Recuso acreditar que um comandante de um qualquer avião na sua tentativa de aterragem no Funchal ao ver o aparelho que dirige "dançar" qual bailarino enlouquecido, levando-o nos dias que correm a abortar cautelarmente essa operação de aterragem, mude esta sua irrepreensível atitude cautelosa e preventiva só porque alguns iluminados de pacotilha resolvem reclamar, berrar alto e aprovar restrições de operacionalidade menos rigorosas porque convém a determinados interesses facilmente identificáveis.
Dúvidas sobre o que eu disse? Então recomendo que vão ao youtube ver os vídeos ali postados alguns deles bem recentes. Depois de os verem, comentem e digam alguma coisinha, caso queiram...
Aliás, gostaria de saber porque razão a RAM não faz um estudo junto dos passageiros que aterram no Funchal nesses momentos para perceber o que é que eles dizem quanto a uma eventual repetição da experiência que alguns já classificaram nas redes sociais de "montanha russa" ou "carrossel descontrolado".
Eu recuso de forma clara o envolvimento da política nesta matéria. Acho mesmo que esse envolvimento político apenas aumenta a desconfiança das pessoas a tudo o que se passa neste domínio. Uma coisa é pedir que o assunto seja analisado com realismo e ponderação e que eventuais mudanças, devidamente fundamentadas, possam ser aprovadas, outra coisa é transformar uma questão técnica numa palhaçada para enganar as pessoas em geral. O parlamento regional também tem ouvido entidades relacionadas com o sector da aviação sobre este tema. Eu entendo que o faça porque o parlamento tem que ser o reflexo, um prolongamento caso queiram, da preocupação e estupefacção da sociedade madeirense perante determinadas situações anormais e que potencialmente nos podem prejudicar de forma dramática, caso a irracionalidade de apodere deste processo de decisão. Mas em termos concretos, e desculpem-me mas tenho que ser muito pragmático quanto a isso, uma coisa é o direitos dos deputados a obterem todas as informações adequadas, outra coisa é esquecer que o parlamento regional não tem competência nesta matéria - o que retira fundamento a qualquer iniciativa político-legislativa que possa tomar, sobretudo caso ela extravase as suas competências legislativas. Acresce que não me parece existir na Assembleia alguém que, tal como eu que assumo que não entendo nada da temática, perceba de forma competente de um assunto tão delicado, complexo e potencialmente polémico.
Vem este meu comentário a propósito da necessidade de termos alguma sobriedade e responsabilidade na abordagem do tema. O presidente do Governo da Madeira afirmou recentemente, segundo a imprensa, que que "a situação recorrente dos condicionamentos no aeroporto da ilha é uma questão técnica que exige soluções políticas na revisão dos limites do vento para realização das operações". Fiquei sem perceber que tipo de soluções políticas são essas, tomadas por quem, em que condições, com que objectivos, com que fundamento, com base em que factores técnicos e operacionais, etc.
De concreto sabe-se que a ANAC (ex-INAC) está a acompanhar o assunto e que não cede a pressões e que os estudos técnicos serão realizados pelo LNEC usando equipamentos adequados e que tudo isto, devido ao melindre do assunto e ao carácter técnico altamente exigente, se realizará à porta fechada sem o show-off habitual na comunicação socal que alguns tanto gostam mas que na realidade não passa de uma tentativa de pressão sobre o processo de decisão.
Sabe-se também que o vice-presidente do executivo regional, Pedro Calado, se deslocará esta semana a Lisboa para "novamente" reunir com responsáveis da Aeroportos de Portugal (ANA) e "avançar com este trabalho de revisão dos limites" da velocidade do vento no Aeroporto da Madeira - Cristiano Ronaldo.
Felizmente que o líder do governo regional deu o mote: "A revisão dos limites tem de ser sempre dentro dos princípios de segurança e esta questão não pode ser descurada".
Sem querer alongar mais comentários  - nomeadamente a resposta em terra aos passageiros afectados, que eu meu entender penaliza mais do que o desvio de aviões por compreensíveis razões operacionais (e muito haverá a dizer sobre a postura de certas entidades públicas e das próprias companhias aéreas) - sem pretender trazer para a discussão a alegada alternativa Porto Santo e todos os problemas que isso implica, apesar da Ilha Dourada ter permitido pontualmente a resolução de algumas dificuldades das companhias obrigadas a despesas adicionais (transporte de passageiros para o Funchal por via marítima e despesas de alojamento na hotelaria local), deixo algumas questões que gostaria que me fossem respondidas:
- a RAM ou a ANAC têm algum estudo sobre as reacções dos passageiros afectados por esta situação de desvio de aviões por razões operacionais?
- a hotelaria madeirense tem sentido algum impacto negativo devido a estes factos, expresso em cancelamentos de reservas?
- é verdade que o aeroporto do  Funchal está dotado com equipamentos de medição dos ventos que são antigos e estão ultrapassados conforme foi dito por um piloto ouvido pelo parlamento regional?
- os operadores turísticos mais relacionados com a hotelaria madeirense já se pronunciaram sobre o assunto? Em que sentido?
- qual  a história do processo de aprovação dos limites operacionais no aeroporto do  Funchal, nos anos 90 segundo creio, e se é verdade que o então INAC e a TAP terão estado em sintonia para evitar que a  companhia portuguesa fosse criticada devido ao facto de nessa altura, com a pista mais curta, ser das poucas que não operava no Funchal (nessa altura era apenas a SATA e as companhias estrangeiras?
- quais são os limites operacionais vigentes no aeroporto do Funchal, nas cabeceiras e nos corredores de aproximação à pista, valores esses que consta de manuais de apoio aos pilotos? Ninguém os divulga
- quantos voos foram cancelados em 2017 devido a condições meteorológicas no aeroporto do Funchal e quantos voos já foram cancelados pelos mesmos motivos em 2018?
- quais os prejuízos causados às companhias aéreas devido à inoperacionalidade do aeroporto do Funchal?

- que prejuízos a hotelaria madeirense pode imputar - se é que imputa - a estas situações irregulares no aeroporto do Funchal que começam a acontecer com frequência nunca antes vista? (LFM)

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