A
democracia portuguesa tem destas coisas. Sabe-se que o nível de agastamento
popular relativamente a qualquer fato em concreto, depende da amplitude
noticiosa que os média propiciam ao
tema e da sistemática repetição informativa que o mesmo é objecto. Dou-vos um
exemplo que em situações normais qualquer um consideraria ser revelador da
hipocrisia mas idiota que por aí anda, muitas vezes trasvestida ou de
“justiceiros” do regime ou “moralizadores” da política.
Há
dias ficamos a saber que:
- os
partidos políticos, que considero peças essenciais de qualquer democracia,
apesar dos seus defeitos e virtudes, devem cerca de 50 milhões de euros,
particularmente à banca;
- que
só em 2017 o Estado gastou mais de 800 milhões de euros com bancos falidos;
- que
o Estado paga mais a ex-directores do falido BPN (que nos custou já mais de 10
mil milhões de euros), contratados por uma espécie de empresa pública, do que
ao Presidente da República (dois antigos responsáveis do núcleo duro de José
Oliveira Costa, do BPN, recebem todos os meses um salário mensal em torno dos
12.600 euros, mais 5.900 euros do que aufere o Presidente da República, conclusão
retirada da auditoria da Inspecção-Geral das Finanças (IGF) à Parvalorem,
empresa pública que ainda gere cerca de 3.000 milhões de euros de activos
tóxicos do antigo Banco Português de Negócios (BPN).
O que
aconteceu? Imediatamente as redes sociais albergaram, como é habitual, os
moralistas da treta do costume, que acham que os partidos não devem ser
financiados pelo Estado. Por um lado exigem isso, mas por outro criticam os
partidos por dependerem de apoios privados ou alegadamente serem perigosamente
financiados por grupos económicos (claro que sobre isto “ladram” os paridos que
não valem rigorosamente nada, que não são nem nunca serão partidos de poder que
não têm qualquer peso social e político digno de algum destaque e que, se
outros não dizem por vergonha, eu digo-o claramente, não fazem falta nenhuma ao
sistema partidário nacional).
Sempre disse, escrevi e reafirmo: prefiro que
o Estado financie os partidos em valores razoáveis, como acontece (e sempre
aconteceu) do que ter partidos marionetes de grupos económicos ou dirigentes de
partidos que, por causa disso, não passam de sopeiros de interesses e grupos
económicos, sopeirismo esse que ninguém detecta (veja-se o que se passa com o
ex-ministro Manuel Pinho e o antigo grupo BES, caso que eu desconfio que ainda
vai dar muito que falar, depois de investigado pela justiça, e vai mostrar
muita podridão em muitos patamares da política portuguesa, incluindo alguns que
reclamam uma “castidade” que dá vontade de rir).
Ainda
recentemente ficamos a saber que o Estado já meteu nos bancos, sem retorno,
mais de 9 mil milhões de euros pagos não pelos vizinhos do lado mas por todos
nós. É sabido que cerca de 15 a 18 mil dos 90 milhões de euros que nos foram
emprestados pela troika na crise de 2011 (e que com juros e comissões nos
custarão mais de 115 mil milhões de euros) foram consignados exclusivamente
bancos, porque o sistema financeiro nessa altura estava a cair de podre e as
falências dos bancos era uma ameaça real que foi sustida pelo menos na dimensão
que inicialmente todos temiam. Estamos a falar de milhares de milhões de euros
pagos pelos portugueses…
O que
é curioso é que, quanto a isso as mesmas redes sociais remetem-se ao silêncio
criminoso e patético, ninguém vê nenhuma irritação popular e os próprios média
viram a cara para o lado dedicando pouca atenção e pouco espaço ao tema, até
porque os interesses publicitários - e não só - envolvendo a banca são enormes,
a que se juntam passivos que ficam adormecidos com o beneplácito das
instituições de crédito que obviamente reagiriam de outra forma se este tema
fosse colocado todos os dias na agenda mediática.
É
mais fácil, de facto muito mais fácil falar dos partidos, atacar os partidos,
criticar a dúvida dos partidos, do que falar num sector - a banca – que é um
covil sem fundo de gastos, de patifarias de corrupção, de compadrios com a
política, de esquemas mafiosos que nem a justiça consegue desvendar com a
celeridade que todos desejavam.
Por
isso, quando sou confrontado com as críticas aos partidos, acho que apenas uma
das duas hipóteses se colocam: ou são pessoas que sabem que quanto mais fracos
e dependentes os partidos – que devem obedecer a regras financeiras claras e
não se transformar numa bandalheira sem rei nem roque, apesar do aumento da
fiscalização nos últimos anos - melhor porque a democracia e as instituições
democráticas ficam mais fragilizadas e desacreditadas, ou são apenas grupos de
bisca transformados em partidozecos insignificantes, sem sede, sem dirigentes,
sem militantes, sem organização, sem nada, que vivem em função eleitoralmente
do espaço que ganham nos meios de comunicação social. Alguns de tão moralistas
foram que até se esqueceram de formalizar obrigações legais que levaram à sua
extinção pouco dignificante. Mas andaram anos a criticar outros, quais
moralistas da treta. O costume. Outros desapareceram do mapa levados pelo vento
do tempo e porque não fizeram falta a ninguém. É este o debate que realmente
interessa e importa? O problema são os cerca de 50 milhões de euros que os principais
partidos políticos devem, não esta patifaria associada à banca. Não me lixem
por favor e mudem a trampa do disco que está gasto! (LFM)
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